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Sexo após o infarto do miocárdio (ataque cardíaco) 

A desinformação sobre a doença cardíaca e  o retorno à atividade sexual não está apenas relacionada ao nível de escolaridade.Muitas vezes, o sexo é visto pelos profissionais da saúde e pelos pacientes como assunto de abordagem delicada, já que em nosso meio ainda vigoram o preconceito e o tabu sobre o tema. Estima-se que, após um diagnóstico de infarto do miocárdio ou procedimento intervencionista (como uma angioplastia coronariana), cerca de 25% dos pacientes retornem à vida sexual normal, apresentando a mesma frequência e a mesma intensidade anteriores ao evento coronariano.Metade dos pacientes retorna à vida sexual com algum grau de diminuição em frequência e/ou intensidade, e os outros 25% restantes não reassumem sua vida sexual de forma satisfatória.

Diversos fatores estão bem estabelecidos quanto à possibilidade da redução da atividade sexual após eventos cardiológicos, dentre os quais medo da morte ou do novo infarto do miocárdio , dispneia (falta de ar), angina do peito , exaustão, alterações da libido (desejo sexual), depressão, impotência, preocupação ou ansiedade do cônjuge, além da sensação de culpa.Esses fatores podem estar associados à falta de esclarecimento sobre a doença e sobre a necessidade de um boa reabilitação cardiopulmonar  e metabólica após um evento cardíaco, além da ignorância a respeito dos possíveis riscos que a prática sexual pode de fato acarretar.

É sabido que  o aumento do batimento cardíaco e a elevação da pressão arterial durante a relação sexual podem servir de gatilho para outro evento cardíaco.No entanto, após avaliação adequada, o risco absoluto é muito baixo. Em um estudo recente , realizado no Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul , foi demonstrado que 60% dos pacientes saem com dúvidas e não sabem informar o momento recomendado para o retorno da prática sexual após a alta hospitalar.Esses dados reforçam a necessidade da busca do embasamento científico a respeito da atividade sexual por parte da equipe de saúde, para melhor orientar os pacientes quanto ao reinício dessa prática, principalmente para enfermeiros, profissionais com maior tempo de contato com os pacientes.

O infarto do miocárdio recente, da região inferior do coração por exemplo , nas primeiras  seis semanas, é classificado como de risco intermediário para atividade sexual.Estudos têm demonstrado aumento do consumo máximo de oxigênio e aumento da pressão arterial sistólica (pressão arterial máxima) após exercício físico ou após a prática sexual. Dessa forma, torna-se essencial a avaliação do risco  dos pacientes, para uma orientação ótima quanto à retomada dessa prática e posterior liberação pela equipe médica. Dentro dessa perspectiva, ficam claras as dúvidas e dificuldades, tanto dos pacientes quanto da equipe de saúde, de como abordar e/ou engajar nos programas de reabilitação cardiopulmonar e metabólica e as orientações sobre a atividade sexual.

Nesse contexto, estratégias que possam adicionar orientações verbais e/ou escritas têm trazido resultados benéficos. É importante mencionar que o desconhecimento sobre a doença e o retorno da atividade sexual podem ser identificados no período de internação, desde que as instituições e os profissionais direcionem a atenção para esses pacientes. O aconselhamento sexual é um importante aspecto a ser abordado e discutido com pacientes e companheiros durante a internação hospitalar. As orientações dispensadas contribuirão para a redução do medo e da ansiedade dos pacientes após infarto do miocárdio , e, portanto, não irão comprometer aspectos relacionados à qualidade de vida.

As orientações para indivíduos após infarto do miocárdio  seguem as recomendações da American Heart Association, estabelecidas de acordo com a prática da atividade sexuale conforme o quadro clínico: a) pacientes de baixo risco cardiovascular: assintomáticos, portadores de menos de três fatores de risco para doença arterial coronária (excluindo gênero masculino), aqueles com hipertensão arterial sistêmica controlada, angina do peito estável leve , aqueles submetidos a revascularização miocárdica com sucesso, pacientes com infarto do miocárdio passado não-complicado, portadores de doença valvar leve, insuficiência cardíaca sem disfunção do ventrículo esquerdo e/ou em classe funcional I (falta de ar apenas aos grandes esforços ) – esses sujeitos podem ser encorajados para recomeçar a atividade sexual ou receber tratamento para disfunção sexual imediatamente; b) pacientes de risco intermediário: portadores de três ou mais fatores de risco para doença arterial coronária (excluindo gênero masculino), presença de angina do peito estável moderada , pacientes com infarto do miocárdio recente (ocorrido entre duas e seis semanas), portadores de disfunção de ventrículo esquerdo e/ou insuficiência cardíaca congestiva classe funcional II (falta de ar aos médios esforços), sequela não-cardíaca de doença aterosclerótica ( derrame cerebral e/ou doença vascular periférica) – esses indivíduos devem realizar uma avaliação cardiológica criteriosa antes de recomeçar a atividade sexual; c) pacientes de alto risco cardiovascular: presença de angina instável ou refratária ao tratamento, hipertensão arterial sistêmica não controlada, insuficiência cardíaca congestiva grave (falta de ar aos mínimos esforços ou ao repouso), infarto recente (menos de duas semanas), arritmias de alto risco, miocardiopatias graves, doença valvar moderada a grave – para esses pacientes a atividade sexual pode constituir um risco significativo, devendo a mesma ser postergada até estabilização da condição cardíaca. A liberação do cardiologista é necessária antes de se reassumir a vida sexual ativa, pois, nessas circunstâncias, o risco pode suplementar o benefício.

Cabe salientar que, em pacientes com doença arterial coronariana estabelecida, o ato sexual , assim como a atividade física vigorosa e/ou a resposta emocional intensa, acaba por representar pequeno risco de desencadeamento de infarto do miocárdio. Além disso, comparado com METs de atividades diárias, a demanda corporal total de oxigênio e o aumento da demanda miocárdica de oxigênio durante a atividade sexual marital são modestas e a duração do aumento é breve . Esse gasto equivale a subir dois lances de escada rapidamente (a atividade sexual vigorosa pode aumentar o gasto de energia para 5 METs a 6 METs). Por fim, tem sido descrito que o risco de evento cardiovascular durante a atividade sexual é significativamente menor naqueles indivíduos que realizam atividade física de forma regular e crônica. Além disso, parece salutar lembrar que sintomas cardiovasculares durante o sexo raramente ocorrem em pacientes que não têm sintomas similares durante o teste de esforço, especialmente se o indivíduo alcançou o equivalente a 6 METs no teste e permaneceu assintomático e sem alterações eletrocardiográficas de isquemia. 

Fonte: 
Arvquivos Brasileiros de Cardiologia.  

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