A medida que a proporção do número de pessoas octagenárias aumenta, o mesmo ocorre em relação às necessidades de cirurgias cardíacas nesta faixa da população.
Aproximadamente 2,8% da população do Canadá tem 80 ou mais anos de idade. A expectativa de vida de uma pessoa de 80 anos no Canadá é de 8,1 anos. Apesar da terapêutica medicamentosa máxima, muitos pacientes com mais de 80 anos tem sintomas intensos de doenças cardiovasculares, vindo a necessitar de cirurgia cardíaca.
Apesar de já existirem muitos estudos documentando os resultados cirúrgicos em octagenários, existe falta de dados acerca da qualidade de vida neste grupo. A Dra. Deborah S Fruitman e seus colaboradores, do Queen Elizabeth II Health Sciences Center (Halifax, Nova Escócia, Canadá) avaliaram 127 pacientes de mais de 80 anos submetidos a vários tipos de cirurgias cardíacas, em relação a qualidade de vida após de cirurgia. Os resultados do estudo foram publicados na revista Annals of Thoracic Surgery.
Estudos anteriores demonstraram que apesar de uma morbidade e mortalidade relativamente maiores quando comparados com pacientes mais jovens, os pacientes idosos têm um risco de operatório aceitável, e os resultados obtidos são geralmente gratificantes. Entretanto, observa-se um número maior de complicações pós-operatórias neste grupo de pacientes, assim como uma maior permanência hospitalar.
A sobrevida após dois anos no grupo operado foi de 80%, que é inferior à sobrevida esperada de 86,6% numa população canadense de idade e sexo semelhantes, mas não operados e não doentes do coração.
Este resultado demonstra um pouco maior mortalidade no grupo de operados, mas que não é proibitiva. Na reavaliação tardia, após a operação, 83,7% dos pacientes estavam vivendo em suas próprias casas, sendo que muitos deles eram completamente independentes.
Quase todos disseram que tomariam novamente a decisão de se submeter à cirurgia cardíaca, caso tivessem que escolher outra vez, e 74,8% deles acreditam que sua saúde atual é excelente, muito boa ou boa.
Os autores concluem que a cirurgia cardíaca acima dos 80 anos de idade não só é viável tecnicamente, mas proporciona uma melhor qualidade de vida posterior. Recomendam que, para ocorrer uma diminuição do risco de morte e complicações , os pacientes deveriam ser encaminhados para tratamento cirúrgico o mais rapidamente possível , procurando também assim diminuir a permanência hospitalar.
Fonte: Annals of Thoracic Surgery.
Comentário do editor:
Com o avanço da medicina o grupo populacional dos octagenários é um dos que mais cresce. A idade é o principal fator de risco para as doenças cardiovasculares, que são disparadamente a principal causa de morte entre os idosos.
Atualmente a idade não é um fator limitante para indicação de uma cirurgia cardíaca, pelo contrário, restringir este tipo de procedimento estaria privando muitos indivíduos que necessitam desta modalidade de tratamento.
Embora saibamos que a idade é um fator que agrava o prognóstico destas cirurgias, dados de literatura como esses mencionados, e outros mais recentes, apontam para resultados bastante favoráveis.
Além da cirurgia de ponte de safena (revascularização miocárdica) crescem as cirurgias para troca de válvulas, como o tratamento da estenose aórtica calcificada e da insuficiência mitral severa, doenças valvulares comuns em idosos.
Autor: Dr. Tufi Dippe Jr – Cardiologista de Curitiba – CRM/PR.
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