Para melhor compreender as doenças das artérias coronárias, apresento aspectos da circulação sangüínea, da função do coração e como ele pode sofrer em conseqüência dessas doenças, assim entenderemos porque e como a prevenção é o melhor caminho para evitar problemas.
O coração é um músculo oco que bombeia sangue. De um lado para levar oxigênio e nutrientes às células do organismo e de outro, para o pulmão que eliminará gás carbônico recebido das células. Funciona, portanto, como duas bombas em paralelo: uma bombeia sangue pobre em oxigênio e rico em gás carbônico do corpo para os pulmões e outra bombeia sangue rico em oxigênio e pobre em gás carbônico dos pulmões para o corpo.
Para funcionar adequadamente, as células musculares do coração necessitam, como outras de tecidos e órgãos, de nutrientes e oxigênio que chegam pelo sangue que ele próprio bombeia. A irrigação do coração é feita pelas artérias coronárias.
Durante a atividade física, os músculos envolvidos precisam de maior quantidade de sangue e, portanto, de oxigênio, o que faz o coração se adaptar à nova necessidade através do aumento dos batimentos.
Qualquer artéria do corpo pode sofrer de aterosclerose, doença que consiste basicamente no depósito de material, principalmente colesterol, uma das gorduras que circula no sangue, acompanhado de processo inflamatório. Esta doença começa na parede das artérias e aumenta para seu interior, produzindo a obstrução gradativa do fluxo de sangue pela artéria comprometida. Quando essa diminuição do fluxo é grande o suficiente para dificultar a passagem do sangue no local, menos sangue chega às células que dependem daquela artéria para o suprimento de oxigênio e nutrientes.
Nesse momento, estabelece-se a isquemia, desproporção entre a quantidade de sangue necessária para as células e a quantidade que a artéria é capaz de entregar. Essa obstrução pode possibilitar a chegada normal de sangue em um músculo em repouso, porém quando participa de exercício, precisando de mais sangue, a obstrução pode não permitir o aumento da oferta de sangue, levando à isquemia induzida pelo esforço. Se em determinado momento ocorrer a parada total do fluxo de sangue por uma artéria, o tecido dependente dessa circulação sofrerá isquemia prolongada o que leva à morte das células.
Como qualquer artéria pode sofrer de aterosclerose, o órgão que ela irriga sofre as conseqüências da falta de circulação. Podemos ter a aterosclerose das artérias cerebrais, provocando deficiência de circulação cerebral e ocasionando o derrame, que pode produzir seqüelas no raciocínio, na fala e nos movimentos.
Se essa falta de circulação acontecer nas artérias das pernas, a conseqüência será dor nas pernas inicialmente ao caminhar maiores distâncias, mas que pode piorar até chegar à dor em repouso e culminar com a gangrena da perna afetada.
No caso do coração, quando as artérias atingidas pela aterosclerose são as coronárias, a conseqüência é angina de peito, dor originada pela isquemia das células cardíacas, o que ocorre, em geral, nas situações de maior necessidade de fluxo de sangue para o músculo cardíaco, quando trabalha mais, por exemplo, na atividade física, na digestão ou durante uma emoção intensa.
Portanto, a angina depende de uma situação de falta de circulação temporária, de uma isquemia reversível. Ou seja: quando termina a atividade, a digestão ou a emoção, diminui a necessidade de sangue para as células musculares do coração, que deixam de trabalhar mais, a isquemia desaparece e com ela a dor.
Porém, a isquemia pode ser definitiva em função da completa parada do fluxo pela artéria doente, em geral, provocada por um coágulo de sangue que se deposita sobre a aterosclerose, que já existia naquela coronária, ocorrendo o infarto do miocárdio, morte das células do coração, um processo definitivo.
Autor: Marcelo Bertolami
Fonte: Blog do Coração – www.socesp.org
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