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Cardiologia Preventiva, Destaques

Consequências do alcoolismo intenso para o sistema cardiovascular , varia de acordo com o sexo 

Um recente estudo, estabeleceu que a ligação entre o alcoolismo , espessamento das artérias , alterações na  função e nas estruturas do coração , parece ser diferente entre homens e mulheres.

As mulheres, segundo os autores do estudo , estão sob maior risco de desenvolver hipertrofia da massa do ventrículo esquerda (principal câmara do coração), enquanto os homens sofrem maior endurecimento das artáerias e do ventrículo esquerdo.

“Geralmente, os pacientes têm que ser acometidos pela hipertensão arterial por mais de 10 anos para desenvolver qualquer alteração estrutural em seus corações”, declara a pesquisadora-chefe, Dra. Azra Mahmud (St. James Hospital, em Dublin, Irlanda), à heartwire. “A idéia era que se o consumo excessivo de álcool não fosse de fato danoso, os pacientes não deveriam apresentar problemas estruturais, mas ficamos realmente chocados com os dados, particularmente sobre mulheres. Elas não desenvolvem mais hipertensão do que os homens ou maior espessamento das artérias, mas apresentam dimensões cardíacas aumentadas, quando muito jovens, com configuração alterada”.

Os pesquisadores que apresentaram os dados no 23º Encontro e Exposição Científica Anual da American Society of Hypertension avaliaram os efeitos deletérios do alcoolismo intenso em homens e mulheres em Dublin, na Irlanda. Dra. Mahmud afirmou para à heartwire que dados anteriores sugeriram que as mulheres estão sob maior risco de cardiomiopatia alcoólica, assim como miopatia esquelética, do que homens, para qualquer quantidade de álcool ao longo da vida.

“Nós sabemos que as mulheres sofrem mais com doenças no fígado do que os homens, talvez por serem menores e possuírem menos enzimas hepáticas, mas há evidências, inclusive nesse estudo, sugerindo outros possíveis mecanismos que as programem, de alguma forma, para apresentarem mais agravos diretos ao coração do que os homens”.

Nesse estudo, os pesquisadores avaliaram 200 indivíduos consecutivos não tratados encaminhados para uma clínica de hipertensão para exame da pressão arterial elevada. Os sujeitos foram classificados de acordo com seus padrões do uso de álcool: os não bebedores, os que bebem moderadamente (homens: 1 a 21 unidades de álcool por semana; mulheres: 1 a 14 unidades de álcool por semana) e os que bebem muito (mais de 21 unidades por semana e mais de 14, respectivamente). Todos foram submetidos a um ecocardiograma convencional, incluindo imagem tecidual por Doppler. O espessamento arterial foi mensurado pela velocidade da onda de pulso e o índice de aumento, outra medida do espessamento arterial sistêmico.

Os pesquisadores observaram, nos homens, uma relação dose-dependente entre a ingestão de álcool e as pressões arteriais sistólica e diastólica, o índice de aumento, a velocidade da onda de pulso e os índices de função diastólica. Mesmo entre aqueles que bebem moderadamente, houve elevações significantes na pressão do sangue na aorta e no índice de aumento. Esses achados, entretanto, diferiram dos referentes às mulheres, no estudo. Nelas, houve uma relação dose-dependente entre o álcool e o espessamento das paredes septais e posteriores do ventrículo esquerdo e o índice de massa dessa mesma câmara. Mesmo entre as usuárias de quantidades exageradas, não houve relação entre a bebida e o espessamento arterial e hipertensão.

Esse aumento no coração é um sinal precoce da progressão para insuficiência cardíaca, ressaltou Dra. Mahmud, embora tenha observado que essas mulheres, com uma idade média de 42 anos nas usuárias de quantidades exageradas, não atingiram ainda esse estágio. A fração de ejeção média foi de 65% entre as mulheres que não bebem e de 58%, nas que bebem muito.

“Assim mesmo, se essas mulheres permanecerem bebendo nessa intensidade, desperdiçarão muitos anos de suas vidas”, declarou a Dra. Mahmud. “O coração vai tornando-se cada vez mais fraco até não ser mais capaz de contrair”.

Dra. Mahmud afirmou que os médicos irlandeses estão percebendo um crescimento na quantidade de álcool que as mulheres vêm consumindo. Ao ser questionada sobre as razões, a pesquisadora especulou que talvez haja uma confusão nas informações a respeito dos benefícios do álcool, com as vantagens cardioprotetoras do vinho tinto geralmente divulgadas na mídia, ou pode ser, também, um resultado do “Tigre Celta”, a ascensão da economia irlandesa, que possivelmente levou a um maior consumo alcoólico. Alegou, ainda, que abrir uma garrafa de vinho, geralmente, significa consumí-la até o fim, mas não há, absolutamente, nenhum benefício clínico em embriagar-se ou beber mais do que duas doses diárias, acrescentou.

Dr. Gerald Berenson (Tulane Center for Cardiovascular Health, Nova Orleans, LA) declarou à heartwire que há, ainda, incertezas sobre o porquê do excesso de álcool manifestar-se diferentemente em homens e mulheres. Pode ser um efeito da dose, pelo fato das mulheres serem menores, ou um efeito metabólico desconhecido. Dr. Berenson ressaltou que o estudo revelou elevações significantes das enzimas hepáticas nos sujeitos do sexo feminino, o que significou que muitas sofrem uma reação inflamatória hepática ao álcool. Declarou, ainda, que a única maneira de tratar homens e mulheres, especialmente aqueles que chegam aos médicos com hipertensão causada pela bebida, é “jogando os livros neles”, ou seja, mudanças alimentares e exercícios, emagrecimento, abandono do fumo e da bebida.

Fonte: American Society of Hypertension (2008).

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