Existem doenças cardiovasculares cujo aparecimento está restrito ao ciclo da gravidez e pós-parto (puerpério). A doença hipertensiva específica da gravidez (pré-eclâmpsia e eclâmpsia) e a cardiomiopatia periparto são doenças cardiovasculares exclusivas do período gravídico e puerperal (até seis meses após o final da gestação).
Doença hipertensiva específica da gravidez
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Cardiomiopatia periparto
É uma doença caracterizada pelo desenvolvimento de insuficiência cardíaca no último trimestre da gravidez ou no pós-parto (dentro de um período de até 6 meses), em mulheres previamente saudáveis.
A cardiomiopatia periparto é uma doença rara, grave, e com mortalidade que gira em torno de 18 a 56%. A sua causa é desconhecida. É dos exemplos de cardiomiopatia dilatada (doença na qual os ventrículos se dilatam e não bombeiam adequadamente o sangue).
Estima-se que a incidência seja de 1/1.435 a 1/15.000 partos, o que acometeria de 1.000 a 1.300 mulheres por ano nos Estados Unidos. Sua causa ainda não está bem esclarecida, tendo sido sugerido fatores alimentares, relacionados ao sistema imune, e a ação de certos vírus. É mais frequente em mulheres com mais de 30 anos de idade, raça negra e gestações gemelares.
Sinais e sintomas
O quadro clínico é de insuficiência cardíaca. A insuficiência cardíaca esquerda (causada pela falência do ventrículo esquerdo) causa falta de ar (por acúmulo de líquidos nos pulmões e derrame na pleura), fadiga, palpitações (inclusive por arritmias cardíacas), tonturas e até síncope (desmaio).
O sintomas de insuficiência cardíaca direita são o edema (acúmulo de líquido nas pernas e na cavidade abdominal, a chamada ascite), veias jugulares túrgidas e aumento do fígado (hepatomegalia). Uma complicação séria pode ser a embolização (deslocamento de coágulos do coração), a qual poderá causar um derrame cerebral ou o entupimento de uma artéria dos membros inferiores, ou ainda, uma embolia pulmonar (causada por êmbolos que vêm do ventrículo direito dilatado, e que se alojam nas artérias do pulmão). Pode ocorrer morte súbita.
Diagnóstico
Baseia-se no exame clínico. O eletrocardiograma mostra um aumento das câmaras cardíacas, notadamente do ventrículo esquerdo, arritmias de graus variáveis e alterações de repolarização ventricular. A radiografia do coração e vasos da base mostra uma cardiomegalia (aumento do tamanho do coração) de graus variados. O ecocardiograma mostra aumento das câmaras cardíacas, diminuição do movimento da parede livre do ventrículo esquerdo, movimento paradoxal do septo interventricular e redução acentuada da fração de ejeção do ventrículo esquerdo (índice que avalia a capacidade de contração e bobeamento de sangue pelo coração).
A ressonância cardíaca poderá ser solicitada. Os trombos (coágulos) no coração estão presentes em mais de 60% dos casos. A biópsia miocárdica tem indicação bastante controversa.
A evolução clínica desta enfermidade, muitas vezes maligna, tem sido significativamente modificada com o diagnóstico precoce e o tratamento adequado.
Tratamento e prognóstico (evolução)
O tratamento é voltado para o combate da insuficiência cardíaca (repouso, dieta com pouco sal, uso de diuréticos, betabloqueadores, digital, inibidores da enzima de conversão e espironolactona). Evitar a formação de trombos com o uso de anticoagulantes e, o combate das arritmias com o uso de antiarrítmicos, são outros objetivos do tratamento. As pacientes que apresentarem melhora clínica e normalização da função miocárdica em até 6 meses do parto têm prognóstico favorável.
Considera-se um grupo favorável para uma nova gestação as pacientes que em até os seis meses após o último parto estiverem em CF I/II (sem falta de ar ou com falta de ar aos esforços acima do habitual), apresentarem ritmo sinusal ao eletrocardiograma (ritmo ditado pelo marcapasso natural do coração), área cardíaca normal à radiografia do tórax, função do ventrículo normal ou próxima do normal ao ecocardiograma e idade menor que 35 anos.
As manifestações embólicas (migração de coágulos) para o cérebro, extremidades e pulmões ocorrem em 25 a 40% dos casos. Uma nova gestação só é aconselhada às pacientes enquadradas na classificação acima, pois o retorno da doença é frequente. O intervalo gestacional ideal é de dois anos. Pacientes com área cardíaca aumentada, arritmias ventriculares e função de contração cardíaca reduzida devem ser desmotivadas com relação a uma nova gestação.
Autor: Dr. Tufi Dippe Jr – Cardiologista de Curitiba – CRM/PR 13700.
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