A dor no peito ou dor torácica é uma das queixas médicas mais comuns. Em certos casos a dor torácica pode traduzir uma doença potencialmente grave. Apenas o médico está capacitado para avaliar adequadamente esse sintoma.
Angina do peito
Os pacientes percebem as crises de angina do peito como uma pressão, aperto ou queimação na região central do tórax. A dor também poderá afetar os ombros ou irradiar-se pela face interna dos membros superiores, costas, pescoço, maxila ou região superior do abdome. Muitos indivíduos descrevem a sensação mais como um desconforto ou pressão do que uma dor propriamente dita.
Tipicamente a angina do peito é desencadeada pela atividade física, dura alguns poucos minutos e desaparece com o repouso ou uso de nitratos (vasodilatadores coronarianos, como o Isordil ou Sustrate).
A dor da angina do peito não costuma piorar com a respiração ou movimentação do tórax. O estresse emocional também pode desencadear ou piorar as crises de angina do peito. A angina do peito poderá ser chamada de estável, instável ou variante.
A angina do peito estável é aquela que apresenta sempre as mesmas características, ou seja, seu fator desencadeante, intensidade e duração costumam ser sempre os mesmos.
Na angina do peito instável o desconforto passa a ter uma maior frequência, intensidade ou duração, muitas vezes, aparecendo ao repouso. A angina do peito instável é uma emergência médica, pois poderá evoluir para um infarto do miocárdio (ataque cardíaco) ou até mesmo, levar à morte súbita.
A angina do peito variante, também chamada de angina de Prinzmetal, é resultante de um espasmo da artéria coronária. Esse tipo de angina do peito é chamada de variante por caracterizar-se pela ocorrência de dor com o indivíduo em repouso (geralmente no período da noite), e não durante o esforço. Outro aspecto são seus achados eletrocardiográficos típicos.
Infarto do miocárdio
Embora o infarto do miocárdio ou infarto agudo do miocárdio possa ocorrer sem sintomas (infarto do miocárdio silencioso), fato mais comum em idosos e diabéticos, cerca de 80% dos casos de infarto do miocárdio são sintomáticos, cursando com dor no peito.
A dor típica do infarto do miocárdio é um desconforto torácico localizado na região central do peito, o qual poderá irradiar-se para as costas, mandíbula, membros superiores e dorso.
A dor ainda poderá ocorrer em apenas uma ou várias dessas localizações, e não na região anterior do tórax. A dor do infarto do miocárdio é semelhante a dor da angina do peito, porém, costuma ser mais prolongada e não alivia com o repouso. Menos frequentemente, a dor é localizada na parte superior do abdome, podendo ser confundida com uma indigestão, úlcera ou gastrite.
Durante um infarto do miocárdio o indivíduo pode apresentar sudorese excessiva, palidez, náuseas, vômitos, agitação, tontura, desmaio, ansiedade ou até sensação de morte.
Apesar de todos os sintomas possíveis, um em cada cinco indivíduos que sofrem um infarto do miocárdio apresentam apenas sintomas leves ou não apresentam sintomas. Esse tipo de infarto do miocárdio é chamado de silencioso, podendo ser detectado algum tempo após a sua ocorrência, através de um eletrocardiograma de rotina.
Pericardite aguda
A pericardite é a inflamação da membrana que reveste o coração. Geralmente a pericardite aguda provoca febre e dor torácica.
A dor pode ser semelhante a de um infarto do miocárdio, exceto pela sua tendência a piorar na posição deitada, durante a tosse ou com a respiração profunda (caráter ventilatório). A dor da pericardite aguda pode aliviar com a inclinação do tórax para frente (“posição de prece maometana”).
A pericardite aguda pode levar a um derrame pericárdico (acúmulo de líquido no pericárdio), o qual poderá acarretar um tamponamento cardíaco, um distúrbio potencialmente letal.
Dissecção aórtica aguda
A aorta é artéria principal do corpo humano, que leva o sangue oxigenado do coração em direção ao cérebro e pulmões. Disseção é a separação das paredes das artérias pelo fluxo de sangue. Teoricamente todo indivíduo que apresenta uma dissecção aórtica aguda sente dor, a qual geralmente é de forte intensidade, com início súbito e contínua.
Mais comumente os pacientes sentem uma dor torácica descrita como “dilacerante”. Também é frequente a presença de dor na região dorsal (parte posterior do tórax), entre as escápulas.
Frequentemente a dor acompanha o trajeto da dissecção ao longo da aorta. Quando a dissecção avança, poderá ocorrer uma obstrução de um ponto onde uma ou mais artérias ligam-se à aorta.
Dependendo de quais são as artérias bloqueadas após a dissecção aórtica aguda, as consequências incluem um derrame cerebral, infarto do miocárdio, insuficiência renal, dor abdominal súbita, lesão nervosa com produção de formigamento e a incapacidade de movimentar um membro. A síncope (desmaio) também poderá ser uma manifestação inicial da dissecção aórtica aguda.
Estenose da válvula aórtica
Essa doença causa sintomas típicos de angina de peito. O indivíduo com estenose aórtica grave (estreitamento severo da válvula de saída do coração) pode desmaiar durante o esforço (síncope), pois a válvula estreitada impede que o ventrículo bombeie sangue suficiente para o cérebro e o restante do corpo.
O diagnóstico da estenose aórtica geralmente é feito após a constatação de um sopro cardíaco característico (auscultado através de um estetoscópio).
Para a identificação da causa e determinação da gravidade da estenose aórtica, um ecocardiograma (exame de imagem que utiliza ondas de ultrassom) deverá ser realizado.
Qualquer adulto (principalmente idoso), que apresente desmaios, sintomas de angina do peito e dificuldade respiratória ao esforço que, comprovadamente, são provocados por uma estenose da válvula aórtica, devem ser encaminhados para à substituição da mesma.
Causas de dor torácica não cardíaca e sua características principais
Pneumonia e pneumotórax
A pneumonia costuma cursar com febre, tosse com catarro e falta de ar (dispneia). A dor torácica costuma ser ao repouso, localizada na parte lateral do tórax, piorando com a tosse ou com a respiração.
A dor do pneumotórax também costuma ser ao repouso e piorar com a respiração, estando associada à falta de ar.
Tromboembolismo pulmonar (embolia pulmonar)
Costuma causar dor torácica ao repouso que piora com a respiração. A presença de dispneia, taquicardia (aceleramento do batimento cardíaco) e tosse com escarro de sangue (hemoptise), são achados típicos da embolia pulmonar.
A presença de fatores predisponentes para trombose venosa (formação de coágulos nas veias das pernas, que são a principal causa do tromboembolismo pulmonar), como no período pós-operatório (principalmente de cirurgias prolongadas ou ortopédicas), doença maligna (câncer), insuficiência cardíaca (falência cardíaca), trombofilias congênitas (distúrbios genéticos que predispõem à formação de coágulos), traumas, gestação, obesidade, entre outros, costumam estar presentes.
Gastrite, esofagite e úlcera
Essas doenças do aparelho digestivo costumam causar azia (queimação na boca do estômago ou no trajeto do esôfago), dor de estômago, plenitude pós-prandial (após a alimentação), náuseas e vômitos.
O desconforto costuma ser ao repouso e ter relação com a alimentação ou ingestão de álcool. A duração pode ser variável, podendo permanecer por horas.
Nas doenças do estômago (gastrite e úlcera), é comum a piora do sintoma com a palpação da região da boca do estômago (região epigástrica).
Dor muscular
Costuma ser lateralizada (em um dos lados do tórax), ao repouso, ter uma duração prolongada, piorando com a respiração, movimentação ou palpação do tórax. Pode haver antecedentes de esforço muscular ou trauma.
Dor óssea (fratura de costela, por exemplo)
Costuma ser localizada em um local restrito, ao repouso e prolongada, piorando com a respiração, movimentação ou palpação do tórax. Pode haver antecedentes de trauma e osteoporose (ossos frágeis).
Costocondrite e Síndrome de Tietze
Costocondrite é uma inflamação da junção de uma costela com o osso esterno (localizado no centro do tórax).
Causa uma dor torácica bem localizada em um ponto, ao repouso, que costuma piorar com a respiração ou palpação do local.
A Síndrome de Tietze é uma inflamação entre a cartilagem que liga as costelas ao esterno, sendo sua ocorrência mais rara que a costocondrite. Essa doença pode ser diferenciada da costocondrite por alguns aspectos: afeta pessoas mais jovens, ocorre geralmente na segunda e terceira articulação costocondral de um único lado, e por último, há edema no local (inchaço).
Herpes Zóster
Essa doença é uma reativação do vírus da varicela, e causa uma inflamação dos nervos do tórax (neurite).
A dor é localizada no trajeto do nervo, sendo do tipo queimação, ao repouso e com uma duração prolongada. A área afetada costuma ser muito sensível ao toque da pele.
Pode causar dúvidas no diagnóstico no período que antecede ao aparecimento de uma erupção com pequenas bolhas no trajeto do nervo, as quais são típicas da doença.
Doenças da vesícula biliar
A presença de pedras na vesícula (litíase biliar) ou inflamação da vesícula (colecistite aguda) costuma cursar com dor na região do hipocôndrio direito (logo abaixo das últimas costelas do lado direito).
A dor costuma ser ao repouso, podendo ter relação com a alimentação (litíase biliar), cursar com febre (colecistite aguda), náuseas, vômitos e falta de apetite (colecistite aguda). A dor geralmente é tipo cólica e costuma piorar com a palpação do local (ponto cístico).
Ansiedade
A ansiedade é um sintoma que acompanha a maioria dos transtornos psiquiátricos.
Em geral, são sintomas que não se enquadram em uma doença específica, muitas vezes, acometendo pessoas de baixo risco para doença arterial coronariana (formação de placas de gorduras na parede das artérias).
A localização da dor no tórax é muito variável, a duração também (segundos até horas, muitas vezes intermitente, aparecendo e desaparecendo), podendo haver piora com a respiração ou palpação do tórax.
É comum que este tipo de dor ocorra apenas ao repouso, não se repetindo durante uma atividade física. Um estresse emocional como fator precipitante é um achado comum. No exame físico não há sinais indicativos de doença orgânica.
Investigação da dor torácica
A base para o diagnóstico correto da causa da dor torácica é o exame clinico (história clínica e exame físico).
Vários exames complementares podem ser solicitados para a investigação, tais como: exames de sangue (enzimas cardíacas ou hemograma, por exemplo), radiografia do tórax, eletrocardiograma, teste de esforço, ecocardiograma, cineangiocoronariografia e cateterismo cardíaco, tomografia de tórax, angiotomografia das artérias do coração ou aorta, entre outros.
“O Portal do Coração adverte: a dor torácica pode ser indicativa de uma doença potencialmente grave. Por isso, se você sentiu ou sente esse sintoma, procure rapidamente a orientação de um médico”.
Autor: Dr. Tufi Dippe Jr – Cardiologista de Curitiba – CRM/PR 13700.
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