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Obesidade e sobrepeso: comer emoções também engorda 

Apesar dos recursos disponíveis em termos de informações sobre o consumo de alimentos e reservas calóricas que levam à elevação do peso, mudanças de hábitos alimentares, a importância da prática de atividades físicas, dietas de baixo teor calórico,  vários produtos light e diet disponíveis no mercado e o  alto consumo de anfetaminas,  observa-se que muitas pessoas com sobrepeso e obesidade têm grandes dificuldades de reduzirem seu peso, como também de se  manterem com um peso saudável após passarem por um processo de emagrecimento. Compreender tal ocorrência levou a um estudo mais detalhado do comportamento alimentar, o qual foi desenvolvido através de literatura especifica originada de trabalhos científicos recentes, bem como de fundamentos da psicologia relacionados à formação dos afetos.

O comportamento alimentar é formado por três componentes: cognitivo, situacional e afetivo. O comportamento cognitivo corresponde ao que o indivíduo sabe sobre alimentos e nutrição; o componente situacional, está mais relacionado ao contexto social, econômico e padrões culturais; e  finalmente, o componente afetivo corresponde ao que é sentido sobre os alimentos e as práticas alimentares.   Os afetos são definidos como emoções, sentimentos, e podem ser considerados dentro de uma ordem que varia do prazer ao desprazer.O desenvolvimento da afetividade se dá através do contato do bebê com a mãe, durante o aleitamento.  Melanie Klein, uma referência em psicanálise infantil, afirmou que os primeiros sentimentos do bebê surgem a partir da conexão de estímulos internos e externos, sendo que a primeira gratificação que ele recebe do mundo externo ocorre quando ele é alimentado.  Afirma que tal satisfação rapidamente o acalma, devendo-se apenas em parte ao alívio da fome, o prazer sentido pelo bebê também decorre do estímulo de sugar o seio materno. Alimentar o bebê portanto, não é apenas uma ato físico, mas também um ato emocional. Independente da forma de alimentar a criança ser leite materno ou uso de mamadeira, o afeto e carinho que acompanham as refeições podem ser muito importantes para o desenvolvimento emocional da criança. A amamentação ou alimentação constitui-se no foco principal da organização afetiva do bebê, e influenciará seu desenvolvimento emocional e social. A saciedade da fome é associada ao bem-estar, segurança e sentimento de ser amado. Esse prazer obtido pela boca se estende à vida adulta, no beijar e nos hábitos alimentares.

De acordo com o modo como foi vivenciado esse contato com o alimento, alguns indivíduos passam a não mais discriminar a fome física, que é decorrente de uma necessidade biológica de sobrevivência, da fome emocional, que é a necessidade de extravasar sentimentos. Estabelece-se então um vínculo com a comida onde o prazer está associado ao alívio de sentimentos negativos, frustração, tensão, ansiedade, stress. A repetição desse modelo de comportamento vai favorecendo o excesso de peso e acúmulo de gordura corporal, levando algumas pessoas à obesidade. Ao mesmo tempo, fica reduzido o repertório de respostas adequadas às emoções e tensões. Está presente um certo grau de inabilidade em decodificar o desconforto sentido, dificuldade em reconhecer emoções e sentimentos, bem como  de expressá-los.

Esse tipo de comportamento alimentar por vezes assume a configuração de comer compulsivo, em busca de um preenchimento de algo que lhe falta, como por exemplo aprovação, amor, atenção ou reconhecimento. Alguns estados emocionais são seguidos do comportamento de comer sem que a pessoa sequer saboreie o alimento ingerido. Pouco importa o que está ingerindo,  o objetivo é o alívio rápido. Através dessa forma de comer, pessoas com sobrepeso e obesidade buscam solucionar problemas que se mantém insolúveis porque as reais dificuldades estão camufladas.

Alguns autores acreditam que a voracidade pode estar relacionada com a ausência de contenção desse comportamento pela mãe em tenra idade, caracterizando uma função materna extremamente benevolente e protetora. Podem se enquadrar nesse grupo aquelas pessoas que mencionam não conseguir resistir a pratos saborosos, doces, etc… Walfish (2004), estudando os fatores emocionais para ganho de peso em pessoas obesas em fase de pré-cirurgia de redução do estômago, identificou num grupo de 122 pacientes, 40% de “comedores emocionais”.  Wansink (2007) fala de “Confort Food”, referindo-se àqueles alimentos que as pessoas tendem a comer quando se sentem tristes, estressadas ou aborrecidas. Em geral não são alimentos saudáveis, e suas preferências não são estabelecidas na infância, seu consumo está relacionado à busca de bem-estar.

Há pesquisas sobre a relação dos hábitos alimentares com o stress ocupacional que demonstram uma correlação positiva entre o stress vivenciado pelas pessoas pesquisadas e padrões alimentares irregulares. O excesso de gordura no organismo piora a qualidade de vida e compromete a longevidade de pessoas que escolhem a ingestão indiscriminada de alimento como forma inadequada de amenizar seu conflito interno, podendo interferir no campo das experiências pessoais. Além disso pode afetar negativamente  no que tange os processos psicológicos relacionados  ao desenvolvimento de distúrbios de auto-imagem e na imagem corporal, além de dificuldades de relacionamento com seus pares. As dificuldades que muitas pessoas encontram de manter seu projeto de emagrecimento ou mesmo a manutenção do peso que já reduziu, muitas vezes ocorre por falta de identificação das razões pelas quais recorrem à sobrecarga alimentar, ou à uma alimentação muito calórica.

É inegável que as influências ambientais, os hábitos familiares, a oferta de alimentos  e a propaganda exercem influência significativa no processo de ganho de peso, mas os  fatores psicológicos devem ser cuidadosamente observados ao se propor qualquer programa com o objetivo de redução de peso.O desenvolvimento de programas voltados para fatores de risco em saúde estão cada vez mais presentes nos ambientes corporativos, figurando a obesidade como um dos focos de preocupação dos gestores. Ela está relacionada com vários problemas crônicos,  exercendo um grande impacto sobre os gastos em saúde. Estudos já demonstram que portadores de obesidade apresentam índices maiores de absenteísmo no trabalho bem como perda de produtividade. Diante das evidências de que as questões afetivas têm papel preponderante nos processos de emagrecimento e manutenção do peso ideal, as ações de qualidade de vida voltadas para a redução dos índices de sobrepeso e obe
sidade devem ser estruturadas em terapêutica multiprofissional para abarcar todo o tipo de demanda, compreendendo cuidados médicos, orientação para mudança de comportamento alimentar e suporte psicológico. Integradas, as diferentes ações profissionais poderão melhorar as condições de retorno, uma vez que são contempladas todas as dimensões: física, psicológica e social dos colaboradores.Os programas de promoção de saúde e qualidade de vida nas organizações devem incluir também colaboradores que não apresentam sobrepeso ou obesidade. A preocupação com os trabalhadores saudáveis previne conseqüências futuras. Um organismo saudável responde mais facilmente às demandas de trabalho.

Autora : Eglí Solé Pazero ( Psicóloga e Consultora em Programas de Gestão de Promoção de Saúde e Qualidade de Vida ).

Fonte: www.abqv.org,br

www.portaldocoracao.com.br

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