Adultos cujos pais tiveram depressão têm mais chances de apresentar sintomas da doença, além de tenderem mais ao uso de antidepressivos e necessidade de ajuda psiquiátrica. O fato, que já era uma hipótese bem aceita por psiquiatras de todo o mundo, foi comprovado numa pesquisa divulgada no último encontro da Associação Americana de Psiquiatria no mês passado. Dois grupos de famílias, com e sem pessoas depressivas, foram acompanhados por 23 anos até que se chegasse a essas conclusões. Com a divulgação do estudo, a classe médica confirma a necessidade de um tratamento global e compartilhado para a doença que é conhecida como o mal do século e atinge mais de 120 milhões de pessoas em todo o mundo.
A depressão é hoje a quarta causa de morte no planeta, mas a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que subirá para a segunda posição até 2020, ficando atrás apenas das doenças cardiovasculares. A quantidade de pessoas que procuram os ambulatórios para o tratamento da doença triplicou em dez anos, e agora os médicos e terapeutas procuram encarar o problema de forma abrangente, incluindo as famílias no processo.
De acordo com o psiquiatra Hamilton Grabowski, do Centro Terapêutico Comunitário do Paraná, embora o Brasil ainda não tenha estrutura para realizar estudos tão longos, a prática médica mostra que a realidade mostrada no estudo se repete por aqui. Ele explica que o estudo pode apenas mostrar o fenômeno, mas a partir dele, as equipes precisam adaptar o tratamento.
A maioria dos especialistas em depressão concorda que a influência familiar, seja ela genética ou social, é decisiva na construção do quadro clínico. Segundo Grabowski, são raros os pacientes sem antecedentes familiares, ainda que em parentes de 20 ou 30 graus. "Às vezes descobrimos histórias de familiares que morreram apáticos e sem causa aparente. A maior probabilidade é de depressão não diagnosticada", relata o médico.
Uma resposta importante encontrada na pesquisa é que, quando os pais conseguem seguir o tratamento até a fase de remissão, ou seja, de desaparecimento completo da doença, os filhos passam a ter tendências depressivas iguais às de pessoas sem histórico familiar. "É bom falarmos disso, porque ajuda inclusive na decisão pelo tratamento, porque eles terão a chance de pensar no futuro dos filhos", afirma.
A depressão não tratada pode acelerar a manifestação dos sintomas depressivos, cada vez mais comuns nas crianças. Como tendem a reproduzir o comportamento dos adultos, absorvem sintomas como mau humor, melancolia e irritabilidade, chegando a associar a indisposição dos pais à sua presença. Em geral, estas crianças tendem a valorizar os sintomas depressivos e repetir os hábitos como a ingestão de remédios.
Vítima da hereditariedade:
A educadora Ana Cláudia Mariani, 26 anos, passou por uma experiência dramática na adolescência. Filha de mãe depressiva, ela tem a tendência genética e aprendeu a ingerir medicações para combater a tristeza. "Quando eu ficava muito mal, minha mãe se preocupava e me dava remédios para dormir. Depois, aprendi que se tomasse certos remédios, tinha o mesmo efeito. Fiz isso por anos quando me aborrecia, e só percebi que precisava me cuidar mais tarde", lembra. Ela afirma que o problema não piorou, pois tomou conhecimento do problema e começou a fazer acompanhamento médico. "Hoje não tomo remédio, mas estou sempre atenta aos sintomas da depressão".
Fonte: Correio da Bahia –www.correiodabahia.com.br
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