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Arritmias cardíacas
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Arritmias cardíacas 

O coração é um orgão ativado por estímulos elétricos, sendo composto por quatro câmaras (duas superiores e menores, chamadas de átrios e, duas inferiores e maiores, chamadas de ventrículos). Essas câmaras funcionam como uma bomba propulsora de sangue.

Esta bomba bate cerca de 100 mil vezes por dia, devendo ser eficaz durante toda a nossa vida. As paredes musculares de cada câmara se contraem em uma sequência precisa, impulsionando um volume máximo de sangue com o menor gasto energético possível.

A contração das fibras musculares do coração é controlada por uma descarga elétrica que flui através de vias elétricas do sistema de condução, em uma velocidade controlada. A descarga elétrica que inicia a cada batimento cardíaco origina-se no marcapasso natural do coração, chamado de nó sinusal ou sinoatrial, situado na parede do átrio direito. A frequência da descarga é influenciada pelos impulsos nervosos e pelos níveis de hormônios que circulam na corrente sanguínea.

O sistema nervoso autônomo (SNA) regula a frequência cardíaca através de seus dois componentes: o sistema nervoso simpático (SNS) e o parassimpático (SNPS). O SNS aumenta a frequência cardíaca, enquanto o SNPS a diminui. O SNS supre o coração com uma rede de nervos, chamada de plexo simpático. O SNPS supre o coração através de um único nervo, chamado de nervo vago. A frequência cardíaca aumenta sob a influência dos hormônios circulantes do SNS (adrenalina e noradrenalina).

O hormônio tireoidiano também influencia a frequência cardíaca. Quando há excesso deste hormônio a frequência cardíaca  torna-se muito elevada, no entanto, quando há deficiência do mesmo, o coração passa a bater muito lentamente. Geralmente, a frequência cardíaca normal em repouso é de 50 a 100 batimentos por minuto.

Entretanto, frequência cardíaca mais baixas (bradicardia sinusal) podem ser normais em adultos jovens, particularmente entre aqueles que apresentam um bom condicionamento físico. Variações da  frequência cardíaca são normais durante as atividades do dia. Certos medicamentos e substâncias, como nicotina do cigarro,  álcool e drogas ilícitas, também podem influenciar a frequência cardíaca.

O sistema elétrico do coração

nó sinusal ou sinoatrial inicia um impulso elétrico que flui sobre os átrios direito e esquerdo (câmaras cardíacas superiores e menores), fazendo que estes se contraiam. O sangue, imediatamente será deslocado para os ventrículos (câmaras cardíacas inferiores e maiores). Quando o impulso elétrico chega ao nó atrioventricular (estação intermediária do sistema elétrico), este impulso sofre um ligeiro retardo.

Em seguida, o impulso dissemina-se ao longo do feixe de His, o qual divide-se em ramo direito (direcionado para o ventrículo direito), e em ramo esquerdo (direcionado para o ventrículo esquerdo). Este último é dividido em três fascículos: anterossuperior, anteromedial e o posteroinferior.

Em seguida, o impulso atinge os ventrículos, fazendo com que estes se contraiam (sístole ventricular), permitindo a saída de sangue para fora do coração. O ventrículo esquerdo ejeta o sangue para o cérebro, músculos e outros orgãos do corpo humano. O ventrículo direito ejeta o sangue exclusivamente para a circulação do pulmão, para que este sangue seja enriquecido com oxigênio.

O ritmo cardíaco ditado pelo marcapasso natural do coração (nó sinusal) é chamado de ritmo sinusal. O ritmo cardíaco ditado pelo nó atrioventricular (estação intermediária do sistema elétrico do coração) é chamado de ritmo juncional. Muitas vezes esse último pode não ser indicativo de uma doença cardíaca propriamente dita.

Arritmias cardíacas

A frequência cardíaca não responde só a ação do exercício e ao estado de repouso, mas também a outros estímulos, como a ação de medicamentos e situações fisiológicas, como por exemplo, dor, ansiedade ou excitação sexual (taquicardia sinusal). Apenas quando a frequência cardíaca é inadequadamente elevada (taquiarritmia) ou baixa (bradiarritmia) ou ainda, quando os impulsos elétricos são originados ou transmitidos por vias anormais é que consideramos a presença de um ritmo cardíaco anormal, chamado de arritmia cardíaca.

As arritmias cardíacas  podem ser regulares ou irregulares. As bradiarritmias são anormalidades da geração ou propagação do estímulo elétrico do coração, podendo afetar o nó sinusal (doença do nó sinusal) ou o nó atrioventricular (bloqueios atrioventriculares de primeiro, segundo e terceiro graus). Estas condições podem cursar com lentificação excessiva do batimento cardíaco, fadiga, queda de pressão, falta de ar,  tontura, sensação de desmaio, desmaio (síncope) e insuficiência cardíaca (coração fraco).

Causas

As arritmias cardíacas podem ser resultado da ação de medicamentos (anfetaminas para emagrecer, descongestionantes nasais, certos antidepressivos e broncodilatadores para a asma), certas substâncias ou drogas ilícitas (cafeína , nicotina, álcool, cocaína, entre outros). Podem ainda ser resultado da descarga excessiva de adrenalina, como em situações de estresse psíquico.

A influência de doenças não cardíacas sobre o coração, como anemia, doença pulmonar crônica, doenças da tireoide (hipertireoidismo), supra-renal (feocromocitoma) ou distúrbios do sono, como a síndrome da apneia obstrutiva do sono, também poderão causar uma arritmia cardíaca.

Em todos estes exemplos citados o coração poderá ser estruturalmente normal. As arritmias cardíacas  ainda podem ser fruto de anormalidades exclusivas do sistema elétrico do do coração, como por exemplo feixes elétricos anômalos (como na síndrome de Wolf-Parkinson-White), circuitos elétricos anormais (taquicardia supraventricular por reentrada do nó atrioventricular) ou doenças hereditárias que afetam a atividade elétrica cardíaca (como a síndrome do QT longo congênito ou a síndrome de Brugada).

Praticamente todas as doenças cardiológicas, como a hipertensão arterial, doença arterial coronariana (isquemia miocárdica silenciosa, angina do peito e infarto do miocárdio), doenças das válvulas cardíacas, doenças do músculo cardíaco (miocardiopatias), entre outras, poderão cursam com diversas modalidades de arritmias cardíacas.

Neste grupo de pacientes as arritmias cardíacas costumam ser mais graves, principalmente se associadas a redução da força de contração do coração (insuficiência cardíaca).

Classificação

– Classificação de acordo com sua origem no sistema elétrico do coração:

As arritmias pode ter origem atrial (exemplos: taquicardia sinusal, extrassístoles atriais, flutter atrial, fibrilação atrial, taquicardia atrial e doença do nó sinusal), juncional (extrassístoles juncionais , ritmo juncional, taquicardia supraventricular por reentrada do nó atrioventricular e os bloqueios atrioventriculares) ou ainda, ventricular (extrassístoles ventriculares, ritmo idioventricular acelerado, taquicardia ventricular e fibrilação ventricular).

– Classificação de acordo com o seu potencial de lentificar (bradiarritmais) ou acelerar os batimentos cardíacos (taquiarritmias):

O batimento cardíaco poderá estar reduzido nas  bradiarritmias, como na bradicardia sinusal, doença do nó sinusal e nos bloqueios atrioventriculares. O batimento cardíaco poderá estar acelerado nas taquiarritmias, como a taquicardia sinusal, taquicardia supraventricular, fibrilação atrial ou taquicardia ventricular.

Essas diversas modalidades de arritmias cardíacas poderão coexistir no mesmo quadro clínico de um determinado paciente.

Sinais e sintomas

As  arritmias cardíacas podem causar uma percepção anormal dos batimentos cardíacos, denominada de palpitação. Este é o principal sintoma das arritmias cardíacas. Sua intensidade varia de pessoa a pessoa, podendo ser totalmente normal em situações fisiológicas, como o esforço físico ou excitação sexual (taquicardia sinusal).

Alguns chegam mesmo a perceber os batimentos normais como observamos nos transtornos de ansiedade, como no transtorno de ansiedade generalizada ou síndrome do pânico.

Frequentemente, a percepção dos próprios batimentos cardíacos é perturbadora, mas na maioria das vezes essa percepção não é decorrente de uma doença cardíaca subjacente.

O indivíduo que apresenta um determinado tipo de arritmias cardíaca  apresenta uma tendência a apresentá-la repetidamente. Alguns tipos de arritmias cardíacas, apesar de causarem poucos ou nenhum sintoma, acabam gerando problemas. Outras arritmias cardíacas nunca provocam problemas graves, mas causam sintomas desagradáveis (arritmia cardíaca benigna).

Com frequência, a natureza e a gravidade da cardiopatia subjacente são mais importantes que a própria arritmia cardíaca. Quando as arritmias cardíacas afetam a força de contração do coração, elas podem causar queda da pressão arterial,  tonturas , lipotímia (sensação de desmaio) e síncope (desmaio).

As arritmais cardíacas  que provocam esses sintomas exigem uma ação imediata. Não raramente, as arritmias cardíacas que aceleram ou lentificam demasiadamente o batimento cardíaco, poderão ser descobertas apenas pelos sintomas de insuficiência cardíaca (coração fraco), fruto de um funcionamento cardíaco inadequado ao longo do tempo.

Diagnóstico

Em geral, a descrição dos sintomas pelo paciente pode auxiliar o médico a estabelecer um diagnóstico preliminar e determinar a gravidade da arritmia cardíaca. As considerações mais importantes são a descrição das características dos batimentos cardíacos realizada pelo paciente, identificando se eles são rápidos ou lentos, regulares ou irregulares, breves ou prolongados, além de informações referentes a episódios de tontura, lipotímia (sensação de desmaio) ou desmaio.

Além disso, o paciente pode relatar a ocorrência de dor torácica, dificuldade respiratória ou qualquer outra sensação concomitante.

Também é importante que o médico identifique se as palpitações ocorrem em repouso ou apenas durante atividades vigorosas e, se elas iniciam e cessam de modo súbito ou gradual. Em geral, são necessários alguns exames adicionais para se determinar a natureza exata do distúrbio. A evidência de doença cardíaca ou não cardíaca, que possam cursar com arritmias cardíacas, além da pesquisa sobre medicamentos, substâncias ou drogas que causam arritmias, deverá ser realizada pelo médico assistente.

O eletrocardiograma  é o exame diagnóstico inicial para a detecção de uma arritmia cardíaca. Esse exame fornece uma representação gráfica da arritmia cardíaca. No entanto, o eletrocardiograma revela apenas o ritmo cardíaco durante um período muito breve e, frequentemente, as arritmias cardíacas são intermitentes.

Por essa razão, um monitor portátil, chamado de Holter, poderá utilizado durante 24 horas, ou ainda, por um período de tempo muito maior (Holter de 7 dias, ou ainda,  detector de eventos). Desta forma, a chance de detectarmos uma arritmia cardíaca aumenta significativamente. Muitas vezes, nestes exames observamos que não há relação entre sintomas e uma verdadeira arritmia cardíaca, ou seja, a palpitação é apenas fruto de uma percepção aumentada do batimento cardíaco.

O ecocardiograma e outros exame de imagem, como a ressonância, são úteis para avaliar a presença de uma cardiopatia subjacente. Exames de laboratório, como a pesquisa da função tireoidiana, geralmente são necessários para a melhor investigação dos quadro de uma arritmia cardíaca.

O estudo eletrofisiológico utiliza cateteres que são introduzido através de uma veia até o coração. Este exame associa a estimulação elétrica do coração com um registro sofisticado do impulso elétrico, permitindo detectar uma arritmia cardíaca, bem como estabelecer a sua origem. Quase todas as arritmias cardíacas graves graves podem ser detectadas através dessa técnica.

Prognóstico (gravidade)

Dependerá em parte do local de origem da  arritmia cardíaca: átrios, nó atrioventricular ou nos ventrículos. Em geral, as arritmias cardíacas originadas nos ventrículos são as mais graves, apesar de muitas delas não serem prejudiciais. A maioria das arritmias cardíacas não provoca sintomas e nem interferem na força de contração do coração e, conseqüentemente,  seus riscos são pequenos ou inexistentes.

Apesar disso, as arritmias cardíacas podem acarretar uma ansiedade considerável quando o indivíduo tem consciência de sua existência. Geralmente, a compreensão de que essas arritmias cardíacas são inofensivas tranquiliza suficientemente o indivíduo afetado.

Muitas vezes, quando o médico muda os medicamentos, ajusta suas dosagens ou quando o paciente evita álcool ou exercícios vigorosos, as arritmias cardíacas  passam a ocorrer menos frequentemente ou podem mesmo desaparecer. O aspecto fundamental nas arritmias cardíacas é saber se estas são benignas (maioria), potencialmente malignas ou malignas.

Estas últimas, em geral, apresentam correlação com a presença de uma doença cardíaca mais grave.

Tratamento

O tratamento das arritmias cardíacas poderá variar muito, de acordo com o quadro clínico de cada paciente. Muitas vezes a simples tranquilização do paciente (se necessário com o uso de medicamentos), melhoria da qualidade do sono, suspensão de certos medicamentos, abandono do cigarro e diminuição da ingestão de cafeína e álcool, poderão ser suficientes para o controle do quadro. Doenças não cardíacas que cursam com arritmias cardíacas deverão ser controladas adequadamente.

O uso das drogas antiarrítmicas deverá ser cauteloso, pois estas drogas podem ter efeitos colaterais, inclusive desencadeando outras formas de arritmias cardíacas ou batimentos cardíacos excessivamente lentos.

Os betabloqueadores (como atenolol ou metoprolol), por apresentarem poucas restrições e efeitos colaterais, são as drogas mais usadas, mesmo em pessoas sem doença cardíaca, visando o alívio das palpitações.

Alguns pacientes só conseguem retomar o ritmo cardíaco normal após um choque elétrico, processo chamado de cardioversão elétrica, mais comumente utilizado para o tratamento de uma arritmia cardíaca chamada de fibrilação atrial.

Um estudo eletrofisiológico e ablação por radiofrequência poderá ser capaz de destruir um feixe elétrico anormal ou outro foco causador da arritmia cardíaca .

Um marcapasso artificial, muitas vezes será indicado para o tratamento das arritmias cardíacas  que lentificam excessivamente os batimentos cardíacos (bradiarritmias), como o bloqueio atrioventricular total ou a doença do nó sinusal.

O desfibrilador automático implantável  é uma modalidade de tratamento para arritmias cardíacas ventriculares graves e potencialmente fatais. Este aparelho consegue identificar a arritmia cardíaca, e as trata imediatamente através de um choque elétrico.

Autor: Dr. Tufi Dippe Jr – Cardiologista de Curitiba – CRM/PR 13700.   

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