O pericárdio é um saco constituído de duas camadas finas que envolvem o coração. Ele contém uma pequena quantidade de líquido entre estas duas camadas (30 a 50 ml), permitindo o deslizamento de uma camada sobre a outra.
O pericárdio mantém o coração em sua posição, impede que este se encha demasiadamente de sangue ao se relaxar (diástole) e o protege de possíveis infecções que possam acometer o tórax. No entanto, o pericárdio não é essencial à vida e, caso seja removido, ele não produz efeitos negativos sobre o desempenho cardíaco. Em raros casos, ocorre uma ausência congênita do pericárdio.
Pericardite é um processo inflamatório do pericárdio que tem várias causas e se apresenta tanto como doença primária (própria do pericárdio) quanto secundária (comprometimento do pericárdio a partir de outras doenças).
Classificação das pericardites
As pericardites são classificadas de acordo com a evolução e forma de apresentação clínica: pericardite aguda, pericardite crônica, derrame pericárdico e tamponamento cardíaco, pericardite constritiva crônica e pericardite recorrente.
Pericardite aguda
A pericardite aguda é uma inflamação do pericárdio que apresenta um início súbito, sendo frequentemente dolorosa. A inflamação faz com que o líquido e os produtos inflamatórios do sangue (como fibrina, hemácias e leucócitos), depositem-se no espaço pericárdico, o que chamamos de derrame pericárdico.
– Causas:
A pericardite aguda possui muitas causas, desde as infecções (vírus, bactérias, fungos, entre outros microrganismos) até o câncer (que pode ter iniciado no pericárdio ou que se propagou a partir de um câncer localizado em outro órgão, como o pulmão e mama, por exemplo).
Outras causas de pericardite incluem, SIDA (síndrome da imunodeficiência adquirida), infarto do miocárdio, cirurgia cardíaca, lúpus eritematoso sistêmico, doença reumatoide, insuficiência renal (falência renal), hipotireoidismo (diminuição da função da glândula tireoide), pneumonia (o processo infeccioso pode chegar até o pericárdio), lesões traumáticas, radioterapia, escape de sangue de um aneurisma da aorta ou dissecção aguda da aorta, entre outras.
A pericardite aguda também pode ser um efeito colateral de certas drogas, como anticoagulantes, penicilina, procainamida, fenitoína e fenilbutazona. A pericardite aguda ainda poderá ser recorrente e sem uma causa aparente (idiopática).
– Complicações:
O tamponamento cardíaco é a complicação mais temida e grave de uma pericardite aguda. Em geral, o tamponamento é decorrente do acúmulo excessivo de líquido ou de sangue no pericárdio (derrame pericárdico), afetando o desempenho do coração. Tuberculose, tumores, lesões traumáticas, cirurgias, infecções virais e bacterianas, hipotireoidismo e a insuficiência renal são causas de tamponamento cardíaco.
No tamponamento cardíaco o paciente pode sentir, além da dor torácica, cansaço e falta de ar. Os sons cardíacos tornam-se abafados, e a pressão arterial pode cair bruscamente, atingindo mais níveis baixos durante a inspiração (pulso paradoxal). A definição de pulso paradoxal é a redução de mais que 10 mmHg da pressão arterial sistólica (máxima) durante a inspiração.
Para confirmar o diagnóstico, o médico utiliza o ecocardiograma (exame que avalia as estruturas do coração por meio de ondas de ultrassom). Frequentemente, o tamponamento cardíaco representa uma emergência médica. O distúrbio é imediatamente tratado através da drenagem cirúrgica ou da punção do pericárdio com uma agulha longa para remoção de líquido e redução da pressão. Quando possível, a remoção do líquido é realizada com monitorização através do ecocardiograma. O ecocardiograma transesofágico (exame em que a sonda do ultrassom é introduzida através do esôfago para gerar as imagens do coração), ressonância cardíaca e tomografia cardíaca também podem ser solicitados para esse diagnóstico.
No caso de uma pericardite de origem desconhecida, o médico pode drenar cirurgicamente o pericárdio, coletando uma amostra para auxiliar na determinação do diagnóstico. Depois da pressão ser aliviada, o paciente comumente é mantido hospitalizado como medida de prevenção da recorrência do tamponamento.
– Sinais e sintomas:
Normalmente, a pericardite aguda provoca febre e dor torácica. A dor pode ser semelhante à de um infarto do miocárdio, exceto pela sua tendência a piorar na posição deitada, durante a tosse ou com a respiração profunda (caráter ventilatório).
– Diagnóstico:
Um médico poderá diagnosticar a pericardite aguda através da descrição da dor referida pelo paciente e também pela ausculta torácica, por meio da utilização de um estetoscópio colocado sobre o tórax do paciente. A pericardite aguda pode produzir um ruído na ausculta cardíaca, semelhante do atritar de um couro novo (atrito pericárdico).
O eletrocardiograma pode apresentar um padrão que é típico da doença. A radiologia do tórax pode demonstrar um aumento da área do coração, e o ecocardiograma pode revelar a presença de uma quantidade excessiva de líquido no pericárdio. O ecocardiograma também poderá sugerir a causa básica da pericardite , por exemplo, um tumor e, mostrar a pressão exercida pelo líquido pericárdico sobre as câmaras cardíacas direitas. A pressão elevada pode ser um sinal de alarme de que existe um tamponamento cardíaco. Outro exame de imagem muito útil é a ressonância cardíaca.
Os exames de sangue permitem a detecção de alguns distúrbios causadores de pericardite como a leucemia, a SIDA, infecções como a tuberculose, a moléstia reumática e o aumento dos níveis proteína C reativa, troponina, ureia e creatinina (nos casos de insuficiência renal), e ainda, TSH (hormônio estimulante da tireoide) no hipotireoidismo.
Alguns casos selecionados de pericardite aguda, com evolução mais grave (casos recorrentes, duração maior que 3 semanas ou com suspeita de câncer), necessitarão de biópsia do pericárdio.
– Prognóstico:
A gravidade do quadro dependerá da causa da pericardite aguda. Quando causada por vírus ou por uma causa não evidente (idiopática), a recuperação geralmente é completa em uma a três semanas. Complicações ou recorrências podem retardar a recuperação. Os indivíduos que apresentam um câncer que invadiu o pericárdio raramente sobrevivem mais de doze ou dezoito meses.
– Tratamento:
Geralmente, os médicos hospitalizam os pacientes com pericardite aguda, administram drogas que reduzem a inflamação e a dor (como a aspirina, ibuprofeno e colchicina) e observam esses pacientes atentamente, verificando a ocorrência de complicações (sobretudo do tamponamento cardíaco). A dor intensa pode exigir o uso de um opiáceo, como a morfina ou corticosteroide. A droga mais comumente utilizada contra a dor intensa é a prednisona. O tratamento posterior da pericardite aguda varia dependendo da causa básica.
Os indivíduos com câncer podem responder à quimioterapia (tratamento à base de drogas contra o câncer) ou à radioterapia. No entanto, eles são frequentemente submetidos à remoção cirúrgica do pericárdio. Os indivíduos submetidos à diálise devido à insuficiência renal normalmente respondem às alterações de seus esquemas de diálise.
Os médicos tratam as infecções bacterianas com antibióticos e drenam cirurgicamente o pus acumulado no pericárdio. Sempre que possível, as drogas que podem causar pericardite são suspensas. Os indivíduos com episódios repetidos de pericardite aguda resultante de uma infecção viral, lesão ou causa desconhecida podem obter alívio com a aspirina, ibuprofeno, colchicina ou corticosteroides. Geralmente, quando o tratamento medicamentoso não é bem sucedido, é realizada a remoção cirúrgica do pericárdio (pericardiectomia).
Autor: Dr. Tufi Dippe Jr – Cardiologista de Curitiba – CRM/PR 13700.
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