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A hipertensão arterial (pressão alta) é chamada de "matadora silenciosa"; conheça melhor essa doença
Hipertensão Arterial

A hipertensão arterial (pressão alta) é chamada de "matadora silenciosa"; conheça melhor essa doença 

A  hipertensão arterial, conhecida popularmente como pressão alta, é uma doença de origem multifatorial (apresenta várias fatores causais), geralmente assintomática, e caracterizada pela elevação persistente dos níveis da pressão arterial.

Sua presença aumenta o risco do desenvolvimento de complicações cardiovasculares, como o acidente vascular cerebral (derrame cerebral), infarto do miocárdio (ataque cardíaco), angina do peito, insuficiência cardíaca (falência cardíaca),  doenças da aorta (aneurismas e outras), retinopatia (doença da retina) e a insuficiência renal (falência dos rins). Pelo fato de geralmente não causar sintomas, a hipertensão arterial é chamada de “matadora silenciosa”.

A hipertensão arterial é o mais importante fator de risco cardiovascular, favorecendo o desenvolvimento da aterosclerose (aparecimento  de  placas  de  gordura na parede das diversas  artérias do organismo).

A associação da hipertensão arterial com outros fatores de risco cardiovascular, como a obesidade abdominal,  glicemia elevada ou diabete melito e as dislipidemias (anormalidades do colesterol e suas frações) é um achado frequente, denotando um mecanismo comum entre essas doenças. Esta associação de fatores de risco cardiovascular é a característica principal da síndrome metabólica.

A  hipertensão arterial  é uma doença que pode iniciar desde a infância, e acomete cerca de 30% dos adultos (pessoas entre 18 a 60 anos de idade). Entre os idosos (pessoas com 60 anos de idade ou mais),  uma população crescente em nosso país, essas cifras são ainda mais expressivas, ultrapassando valores de 60%.

Causas

A hipertensão arterial pode ser primária (origem multifatorial, sem uma causa específica) ou secundária (apresenta uma causa específica).

– Hipertensão arterial  primária:

Essa condição não apresenta uma causa definida, correspondendo a grande maioria dos casos (mais de 95%). A hipertensão arterial primária é uma doença multifatorial, pois diversos aspectos contribuem para o seu aparecimento: idade, sexo (os homens geralmente iniciam o quadro de hipertensão arterial antes dos 50 anos e as mulheres após os 50 anos), excesso de peso, raça (afrodescendentes  sofrem mais de hipertensão arterial), sedentarismo, fatores socioeconômicos (pessoas de nível social mais baixo são mais propensas ao desenvolvimento da hipertensão arterial),  ingestão excessiva de sal e álcool, história familiar (genética), entre outros.

A presença de hipertensão arterial primária, obesidade abdominal,  resistência à ação da insulina (hormônio que permite a entrada do açúcar para dentro das células), elevação dos níveis de glicemia (açúcar no sangue ) e dos triglicerídeos, associados com baixos níveis de HDL-colesterol (“colesterol bom”), são os componentes da síndrome metabólica.

– Hipertensão arterial secundária:

São os casos que apresentam uma causa aparente, correspondendo a minoria dos hipertensos (cerca de 3 a 5% dos casos). São causas de hipertensão arterial  secundária: doenças renais (glomerulonefrites, por exemplo), doenças das artérias renais (comprometimento por aterosclerose ou displasia fibromuscular), doenças da supra-renal (que acarretam um excesso na produção do hormônio aldosterona, que retém sódio e água) , síndrome de Cushing (excesso na produção de cortisol), feocromocitoma (tumor que produz catecolaminas, substâncias que elevam o batimento cardíaco e a pressão arterial), coarctação da aorta (estreitamento congênito da artéria aorta), doenças da tireoide (hipo ou hipertireoidismo), ação de medicamentos (anti-inflamatórios, corticoesteroides, descongestionantes nasais, inibidores de apetite, modafinil, anticoncepcionais,  terapia de reposição hormonal e certos antidepressivos),  ingestão excessiva de álcool, uso de drogas ilícitas (como cocaína e seus derivados), síndrome da apneia do sono (roncos e paradas respiratórias noturnas, associadas a fadiga e sonolência diurna ), entre outras.

Sinais e sintomas

A hipertensão arterial não costuma causar sintomas, por isso, é conhecida como a “matadora silenciosa”. Sintomas como dor de cabeça, mal estar, tonturas e sangramento nasal não apresentam boa correlação com níveis elevados da pressão arterial. Muitas vezes, o diagnóstico de hipertensão arterial é realizado apenas na vigência de complicações da doença (veja abaixo).

Pacientes com pressão arterial muito elevada (superior a 210/120 mmHg ) poderão apresentar sintomas, ou ainda, aqueles casos de elevação muito rápida da pressão arterial.

Complicações

A hipertensão arterial  é um importante fator de risco para o desenvolvimento de complicações cardiovasculares e renais, aquilo que chamamos de “lesões em órgãos-alvo”. A presença de níveis mais elevados  de pressão arterial, bem como, a presença de outros fatores de risco cardiovascular, como o tabagismo, dislipidemias (anormalidades do colesterol e  suas frações ) ou diabete melito, aumentam muito o risco do desenvolvimento de lesões em órgãos-alvo.

– Coração:

A hipertrofia do ventrículo esquerdo, ou seja, um espessamento anormal do músculo cardíaco resultante de uma sobrecarga causada pela pressão arterial aumentada, é uma das primeiras anormalidades cardíacas decorrentes da hipertensão arterial. Outras complicações cardíacas são: angina do peito, infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca, arritmias cardíacas e distúrbios da condução elétrica do coração.

– Cérebro:

Poderá ocorrer uma isquemia cerebral transitória, acidente vascular cerebral (derrame cerebral, dos tipos isquêmico ou hemorrágico) e a demência vascular.

– Rins:

Graus variados de disfunção renal, com perda urinária de proteínas na fase inicial, até uma insuficiência renal crônica.

– Vasos:

Poderá surgir a aterosclerose (formação de placas de gordura ou ateromas na parede das artérias) e as doenças da aorta (aneurismas e outras).

– Olhos:

Poderá haver comprometimento da retina com prejuízo da visão.

Diagnóstico

Por ser uma doença geralmente sem sintomas, grande parte dos portadores de hipertensão arterial  não estão cientes sobre a existência da doença. Uma revisão de estudo mostrou que as taxas de conhecimento (22% a 77%), tratamento (11,4% a 77,5%) e controle (10,1% a 35,5%) da pressão arterial também variaram bastante, dependendo da população estudada.

O diagnóstico da hipertensão arterial fundamenta-se na medida da pressão arterial. A diretriz brasileira de 2016 define a hipertensão arterial por níveis persistente elevados da pressão arterial, ou seja, valores iguais ou maiores que 140/90 mmHg. A diretriz norte-americana de 2017 é mais rigorosa, e define a hipertensão arterial como valores iguais ou maiores que 130/80 mmHg. 

Na maioria dos casos, o diagnóstico de hipertensão arterial exige a constatação de uma pressão arterial elevada em diversas consultas. Este diagnóstico deverá ser confirmado por um exame que avalie a pressão arterial fora do consultório, como a monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA).

De  uma forma didática, podemos dizer que a  pressão arterial sistólica (máxima) resulta do impacto do  sangue na aorta  após ser ejetado para fora do coração. A  pressão arterial diastólica (mínima), corresponde ao acomodamento desse sangue que foi ejetado  na circulação sanguínea. O valor destas duas pressões são expressas em milímetros de mercúrio (exemplo: 124/82 mmHg ).

Tanto a pressão arterial sistólica quanto a diastólica, quando elevadas, aumentam o risco de complicações cardiovasculares . Estas pressões costumam se elevar ao longo da vida , no entanto, após os 50 anos de idade a pressão arterial diastólica para de se elevar , podendo inclusive diminuir.

Logo, em pessoas idosas, na qual as artérias são mais calcificadas e endurecidas, comumente observamos um aumento apenas da pressão arterial sistólica. Esta forma particular de hipertensão arterial  é chamada de hipertensão arterial sistólica isolada. Em adultos o risco cardiovascular começa a aumentar a partir de valores da pressão arterial superiores a 115/75 mmHg, por isso, consideramos a pressão arterial ótima quando esta for inferior à 120/80 mmHg.

– Comportamento da pressão arterial no ambiente médico ou de consultório :

A medida da pressão arterial é um ato médico aparentemente simples, mas que apresenta inúmeras limitações, relacionadas ao paciente, ao médico, aos equipamentos utilizados e a técnica empregada para a medida da pressão arterial.

A pressão arterial poderá alterar-se significativamente por influência do ambiente médico ou de consultório.

Este  fato dificulta o correto diagnóstico da  doença. Neste contexto, poderão ocorrer as seguintes situações em relação à pressão arterial:

Não ocorrer nenhuma alteração significativa (corresponde a maioria dos casos ). Surgir o “efeito do avental branco”, ou seja, uma elevação da pressão arterial que ocorre em pessoas com ou sem hipertensão arterial, mas que não altera o seu diagnóstico definitivo (em pessoas sem hipertensão arterial  essa elevação não é suficiente para colocá-lo na categoria de um paciente hipertenso, ou seja, com pressão arterial igual ou maior que 140/90 mmHg).

A “hipertensão do avental branco” caracteriza-se por uma elevação da pressão arterial a um nível de hipertensão arterial (pressão arterial maior ou igual a 140/90 mmHg) em uma pessoa que fora do consultório apresenta uma pressão arterial normal. Responsável por até 30% dos casos.

A “normotensão do consultório” caracteriza-se por uma queda da pressão arterial a níveis menores que 140/90 mmHg, em pacientes que são realmente hipertensos fora do consultório. Corresponde à 10 a 15% do casos.

Por isso, uma grande proporção dos pacientes hipertensos necessitará de uma confirmação de seu diagnóstico através de um exame  que analise a pressão arterial fora do ambiente médico ou de consultório como a monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA) ou monitorização residencial da pressão arterial (MRPA).

Prognóstico (gravidade)

A hipertensão arterial não-tratada corretamente explica 25% dos casos de diálise por insuficiência renal crônica terminal, 80% dos acidentes vasculares cerebrais (derrame cerebral) e 60% dos casos de infarto do miocárdio. Essas doenças são a principal causa de morte no país.

As complicações quando não levam à morte, prejudicam a qualidade de vida do paciente e oneram o Estado. Dados do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) demonstraram que 40% das aposentadorias precoces decorrem de derrames cerebrais e infartos do miocárdio.

Tratamento e prevenção

O  tratamento da hipertensão arterial  pode ser dividido em não-medicamentoso e medicamentoso. Valores abaixo de 120/80 mmHg (pressão arterial ótima) seriam a meta ideal a ser  obtida em todos os pacientes, no entanto, estes valores não costumam  ser facilmente alcançados.

Em grande parte dos pacientes a meta mais realista é manter a pressão arterial  pelo menos abaixo de 140/90 mmHg ou abaixo de 130/80 mmHg em pacientes de alto risco.

As mesmas medidas adotas para o tratamento não-medicamentoso da hipertensão arterial, também servem para a sua prevenção.

– Tratamento não-medicamentoso:

São basicamente mudanças nos  hábitos de vida. As medidas a serem adotadas por todos os hipertensos são as seguintes:

Perda de peso: os hipertensos com excesso de peso deve emagrecer. O objetivo é atingir uma circunferência abdominal adequada (inferior à 94 cm nos homens e 80 cm nas mulheres ) e um índice de massa corporal (peso dividido pela a altura ao quadrado= P/ AxA) inferior a 25 kg/m2. A perda de dez quilos  pode diminuir a pressão arterial sistólica em 5 a 20 mmHg, sendo a medida não-medicamentosa de melhor resultado.

Uma dieta com baixa caloria e um aumento do gasto energético com atividades físicas, são fundamentais para a perda de peso.

Alimentação adequada: a dieta do hipertenso deverá ser pobre em sal e rica em potássio, magnésio e cálcio. A dieta pobre em sal (hipossódica) deverá restringir a ingestão diária de sal em 5 gramas (2 gramas de sódio), Devemos evitar  conservas, frios, enlatados, embutidos, molhos prontos, sopas de pacote, queijos amarelos, salgadinhos, etc.). O consumo de vinagre, limão, azeite de oliva, pimenta  e ervas  está permitido, pois esses alimentos não influenciam na pressão arterial. Uma dieta hipossódica pode reduzir a pressão arterial sistólica em 2 a 7 mmHg.

Uma  dieta rica em potássio e magnésio poderá ser obtida através de uma ingestão rica de feijões, ervilhas, vegetais verde escuros, banana, melão, laranja, cenoura, beterraba, frutas secas, tomates e batata inglesa. O cálcio da dieta poderá ser obtido através de derivados do leite com baixo teor de gorduras, como o leite e o iogurte desnatados e os queijos brancos.

Uma dieta , chamada de DASH, composta de frutas, verduras, fibras, alimentos integrais, leite desnatado, pobre em colesterol e gorduras saturadas, foi testada e demonstrou  ser capaz de reduzir a pressão arterial sistólica em 6 mmHg.

Ingestão moderada de bebidas alcoólicas: o hipertenso deve evitar uma ingestão regular de bebidas alcoólicas e, quando isso ocorrer, esta ingestão deverá ser limitada a 30 gramas de etanol nos homens (700 ml de cerveja ou 300 ml de vinho ou 100 ml de destilado) e 15 gramas de etanol nas mulheres, ou seja, 50% da quantidade permitida para homens. A  diminuição da ingestão excessiva de bebidas alcoólicas pode diminuir a pressão arterial sistólica em 3 mmHg.

Cessação do hábito de fumar: o tabagismo aumenta muito o risco de complicações cardiovasculares em pacientes portadores de hipertensão arterial, logo, deverá ser abandonado.

Prática regular de exercícios físicos: o paciente hipertenso deverá praticar exercícios físicos aeróbicos (caminhada, corrida, ciclismo, dança ou natação), 4 a 5 vezes por semana, com uma duração mínima de 30 minutos e uma intensidade moderada ( 50 a 70% da frequência cardíaca máxima para indivíduos sedentários e 60 a 80% da frequência cardíaca máxima para indivíduos treinandos).

O início de um programa de exercícios físicos deverá ser precedido por uma avaliação médica. Hipertensos severos não devem inciar exercícios físicos antes de um controle satisfatório da sua  pressão arterial. A prática regular de exercícios físicos pode reduzir a pressão arterial sistólica em 4 a 9 mmHg ( leia a página sobre exercícios físicos e hipertensão arterial).

Controle do estresse psicossocial: o estresse  persistente pode contribuir para a manutenção de uma pressão arterial mais elevada. Técnicas de controle do estresse emocional podem ser úteis no controle da hipertensão arterial.

– Tratamento medicamentoso:

O uso de medicamentos deverá ser instituído de forma imediata em hipertensos graves ou naqueles que apresentam mais fatores de risco cardiovascular (tabagismo , diabete melito , obesidade abdominal, dislipidemias, idade maior que 60 anos, etc.)  ou ainda, nos pacientes que apresentam evidências de lesões em órgãos-alvo da hipertensão arterial. Atualmente dispomos de uma infinidade de medicamentos para o combate da hipertensão arterial.

A opção por uma ou outra medicação deverá levar em conta aspectos individuais de cada paciente. Cerca de 70% ou mais dos hipertensos necessitará de duas ou mais medicações para o controle adequado de sua pressão arterial. Infelizmente, pelo caráter crônico, assintomático e incurável da doença, grande parte dos pacientes portadores de hipertensão arterial abandonam o tratamento.

Em um estudo brasileiro constatou-se que menos de 10% dos pacientes hipertensos apresentavam um controle satisfatório da pressão arterial.   

Autor: Dr. Tufi Dippe Jr – Cardiologista de Curitiba – CRM/PR 13700.

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