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Insuficiência mitral
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Insuficiência mitral 

O nosso coração possui quatro câmaras: duas superiores e menores (átrios), e duas inferiores e maiores (ventrículos). Cada ventrículo possui uma válvula de entrada e outra de saída, totalizando quatro, que normalmente conduzem o sangue em apenas um único sentido.

O sangue pobre em oxigênio flui através da válvula tricúspide do átrio direito para o ventrículo direito, e da válvula pulmonar do ventrículo direito para as artérias pulmonares (circulação pulmonar), para ser oxigenado.

O sangue oxigenado no átrio esquerdo passa pela válvula mitral até o ventrículo esquerdo e, por último, sai do ventrículo esquerdo em direção à artéria aorta através da válvula aórtica (circulação sistêmica).

Quais as doenças que podem surgir nas válvulas cardíacas?

As válvulas cardíacas doentes podem permitir um vazamento anormal do sangue (insuficiência valvular) ou dificultar a passagem normal do sangue por não apresentarem uma abertura adequada (estenose valvular).

Estas anormalidades das válvulas (valvulopatias) podem apresentar graus variados de gravidade (leve, moderada ou severa), interferindo na capacidade de bombeamento do sangue pelo coração.

Uma válvula pode eventualmente apresentar os dois tipos de anormalidades de uma forma simultânea (insuficiência mitral leve associada a uma estenose mitral severa, por exemplo), o que chamamos de dupla lesão valvular.

Insuficiência mitral

A insuficiência mitral ou regurgitação mitral consiste no fluxo retrógrado do sangue (para trás, ao invés de para à frente) através dessa válvula em direção ao átrio esquerdo, cada vez que o ventrículo esquerdo se contrai (sístole). Este fato resulta em um acúmulo de líquido (edema) no interior dos pulmões.

-Causas:

A moléstia reumática (febre reumática) é a causa mais comum de insuficiência mitral no Brasil. Atualmente ela é mais incomum nos países que contam com uma medicina preventiva de boa qualidade.

Na América do norte e na Europa ocidental as causas comuns de insuficiência mitral são: prolapso da válvula mitral e calcificação da válvula. Outras causas de insuficiência mitral são a endocardite infecciosa (infecção da válvula mitral), lúpus eritematoso sistêmico e síndrome de Marfan.

A insuficiência mitral poderá ser secundária à outras doenças cardíacas, como a cardiopatia isquêmica (obstrução das artérias do coração por placas de gordura ou ateromas), cardiomiopatia dilatada e cardiomiopatia hipertrófica.

-Sinais e sintomas:

A insuficiência mitral de grau leve ou moderado pode não produzir quaisquer sintomas. O problema é muitas vezes identificado apenas quando o médico auscultando o paciente com um estetoscópio percebe um sopro cardíaco característico, resultante do fluxo retrógrado de sangue que retorna ao átrio esquerdo após a contração do ventrículo esquerdo. Pelo fato de ser obrigado a bombear mais sangue para compensar o fluxo retrógrado de sangue ao átrio esquerdo, ocorre um aumento progressivo do ventrículo esquerdo para aumentar a força de cada batimento cardíaco.

O ventrículo dilatado pode produzir palpitações (percepção de anormal dos batimentos cardíacos). O átrio esquerdo também tende a dilatar para acomodar o sangue adicional que retorna do ventrículo. Um átrio muito dilatado poderá bater rapidamente, e com um padrão desorganizado e irregular, arritmia que é chamada de fibrilação atrial, a qual reduz a eficácia do bombeamento do coração.

Na realidade, o átrio em ritmo de fibrilação atrial não bombeia o sangue, apenas tremula, e a ausência de um fluxo sanguíneo adequado permite a formação de coágulos. Se um desses coágulos se soltar, será bombeado para fora do coração e poderá obstruir uma artéria de menor calibre, fato que poderá provocar um acidente vascular cerebral isquêmico (derrame cerebral).

Outra consequência indesejável da fibrilação atrial é tornar o coração constantemente mais acelerado, prejudicando no futuro a sua força de contração (insuficiência cardíaca).

A insuficiência mitral grave reduz o fluxo sanguíneo anterógrado o suficiente para provocar uma insuficiência cardíaca (coração fraco), a qual poderá produzir tosse (seca ou com um catarro claro, como clara de ovo), dificuldade respiratória durante o exercício ou esforço (dispneia).

-Diagnóstico:

Em geral, o médico  poderá diagnosticar uma insuficiência mitral através da ausculta de seu sopro característico. O eletrocardiograma  e a radiografia do tórax poderão revelar um átrio e ventrículo esquerdo aumentados de tamanho.

O exame que fornece mais informações é o ecocardiograma, uma técnica de diagnóstico por imagem que utiliza ondas de ultrassom. Esse exame pode mostrar a imagem de uma válvula defeituosa, indicando também a gravidade do problema. O ecocardiograma transesofágico e a ressonância magnética cardíaca poderão ser solicitados em casos selecionados.

-Tratamento:

No tratamento da insuficiência mitral, além  da utilização de medicamentos, se a insuficiência mitral for grave a válvula deverá ser reparada antes que a anormalidade do ventrículo esquerdo torne-se muito importante.

Indicadores de tratamento cirúrgico na insuficiência mitral grave: fração de ejeção igual ou menor que 60%, remodelamento progressivo (diâmetro sistólico de ventrículo esquerdo igual ou maior que 40 mm), pressão sistólica da artéria pulmonar igual ou maior que 50 mmHg, volume do átrio esquerdo igual ou maior que 60 mL/m2 (esses quatro parâmetros são avaliados pelo ecocardiograma) e fibrilação arterial de início recente (menos que 1 ano).

A cirurgia pode ter como objetivo a reparação da válvula (valvuloplastia, que é técnica preferível) ou ser substituída por uma válvula mecânica ou biológica.

O Mitra Clip é um dispositivo implantado através de uma artéria periférica que pode ser utilizado nos casos de insuficiência mitral que ocorrem em pacientes com alto risco cirúrgico.

As válvulas mecânicas por durarem mais tempo são preferidas em pacientes mais jovens (abaixo de 50 anos), embora apresentem o risco de formação de coágulos sanguíneos, obrigando o paciente a tomar anticoagulantes orais continuamente.

As válvulas biológicas funcionam bem, e não acarretam o risco de formação de coágulos, mas a sua duração é menor do que a das válvulas mecânicas, sendo então preferidas em pacientes mais idosos (mais de 70 anos). Nos pacientes com 50 a 70 anos a escolha do tipo de válvula deverá ser individualizado.

A fibrilação atrial também exige tratamento com medicamentos e o uso de anticoagulante. As superfícies das válvulas cardíacas lesadas podem ser locais de graves infecções (endocardite infecciosa).

-Prevenção da endocardite infecciosa:

Qualquer pessoa que tenha uma válvula artificial em seu coração ou que tenha tido um episódio prévio de endocardite infecciosa deverá tomar antibióticos antes de ser submetida a um tratamento odontológico para evitar a ocorrência de endocardite infecciosa.

Autor: Dr. Tufi Dippe Jr – Cardiologista de Curitiba – CRM/PR 13700.

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