O coração é um orgão ativado por estímulos elétricos, sendo composto por quatro câmaras que funcionam como uma bomba propulsora de sangue.
Esta bomba bate cerca de 100 mil vezes por dia, devendo ser eficaz durante toda a nossa vida. As paredes musculares de cada câmara se contraem em uma sequência precisa, impulsionando um volume máximo de sangue com o menor consumo possível de energia.
A contração das fibras musculares do coração é controlada por uma descarga elétrica que flui através de vias distintas em uma velocidade controlada. O nó sinusal ou sinoatrial inicia um impulso elétrico que flui sobre os átrios direito e esquerdo (câmaras cardíacas superiores), fazendo que estes se contraiam. O sangue imediatamente será deslocado para os ventrículos (câmaras cardíacas maiores e inferiores).
Quando o impulso elétrico chega ao nó atrioventricular (estação intermediária do sistema elétrico), este impulso sofre um ligeiro retardo. Em seguida, o impulso dissemina-se ao longo do feixe de His, o qual divide-se em ramo direito (direcionado para o ventrículo direito) e ramo esquerdo (direcionado para o ventrículo esquerdo). Este último é dividido em três fascículos: anterossuperior, anteromedial e posteroinferior.
O impulso elétrico finalmente atinge os ventrículos, fazendo com que estes se contraiam (sístole ventricular), permitindo a saída de sangue do coração.
O ventrículo esquerdo ejeta o sangue para o cérebro, músculos e outros orgãos do corpo humano. O ventrículo direito ejeta o sangue exclusivamente para a circulação do pulmão, para que este sangue seja enriquecido com oxigênio.
O marcapasso artificial é um sistema de estimulação elétrica que consiste em um gerador de estímulos elétricos e um eletrodo. O gerador de estímulos elétricos é um circuito eletrônico miniaturizado e em uma bateria compacta.
Os marcapassos tem um diâmetro próximo de cinco centímetros, podendo ser programado a funcionar na ausência do ritmo cardíaco natural (marcapasso de demanda). Assim, o marcapasso está apto a reconhecer ou perceber a atividade cardíaca. Quando o marcapasso não capta nenhum impulso elétrico natural do coração, libera um impulso elétrico. Como resultado, o músculo cardíaco contrai-se.
O marcapasso é ligado ao coração através de um ou dois eletrodos. O eletrodo é um fio condutor muito fino, eletricamente isolado, que é colocado diretamente no lado direito do coração. É através destes fios que os impulsos elétricos são transportados até o coração.
Orientações antes do implante do marcapasso artificial definitivo
É necessário jejum de 6 horas. O marcapasso será implantado no centro cirúrgico ou no laboratório de hemodinâmica (local onde realiza-se os exames de cateterismo cardáico). Medicações de uso habitual não costumam ser suspensas, com exceção dos anticoagulantes, por aumentarem os riscos de sangramentos. O uso de antibióticos preventivos é recomendada. O implante é realizado sob monitorização contínua da pressão arterial, eletrocardiograma e oximetria (avaliação do nível de oxigenação no sangue).
É realizada uma anestesia local com sedação ou uma anestesia geral. O gerador do marcapasso geralmente é implantado na região peitoral (tórax) ou no abdômen. O cabo-eletrodo (um ou dois) que entrará em contato com a atividade elétrica do coração é introduzido através de uma veia. Após o implante do marcapasso definitiva, realizamos um eletrocardiograma e exame de raio X do tórax. O paciente permanece internado por pelo menos 24 horas após o implante.
Indicações
– Disfunção do nó sinusal ( marcapasso natural do coração):
Quando há uma disfunção irreversível do nó sinusal ou esta é causada por medicamentos que não podem ser retirados , um marcapasso definitivo poderá ser indicado nos casos com batimentos cardíacos muito reduzidos, levando a falta de ar, fadiga, tonturas e desmaios.
– Síndrome do seio carotídeo:
O seio carotídeo é uma estrutura localizada no pescoço que participa do controle do batimento cardíaco e da pressão arterial. A síndrome (conjunto de sinais e sintomas) do seio carotídeo é uma doença rara, onde certos movimentos bruscos do pescoço ou por compressão dessa região (exemplo: por uma gravata apertada), podem levar a quedas do batimento cardíaco e da pressão arterial. O marcapasso definitivo está indicado em casos de síndrome do seio carotídeo que causam desmaios (síncopes).
– Bloqueio atrioventricular :
O nó atrioventricular é uma estação “intermediária” do sistema elétrico do coração onde o impulso originado no nó sinusal (marcapasso natural do coração) sofre um ligeiro retardo. Situações onde este impulso elétrico, exatamente neste local, lentifica-se execessivamente, são chamadas de bloqueios atrioventriculares. O bloqueio atrioventricular de segundo e terceiros graus (este último é chamado de bloqueio atrioventricular total) em geral, requerem o implante de um marcapasso.
A cardiopatia isquêmica, doença de Chagas, cardiomiopatias dilatadas idiopáticas, infarto do miocárdio, entre outras cardiopatias, podem causar esses bloqueios avançados. O bloqueio atrioventricular do primeiro grau raramente exige implante de um marcapasso definitivo. É comum que os casos de bloqueio atrioventricular total congênito (presentes desde o nascimento) não necessitem de um implante de marcapaso.
– Bloqueio intraventricular:
O impulso elétrico sofre um bloqueio nas vias elétricas (feixes de História) que ativam os ventrículos (câmaras cardíacas maiores e inferiores do coração). Estes bloqueios intraventriculares quando levam a episódios de síncope (desmaio), podem exigir um implante de marcapasso.
Riscos e complicações
As complicações mais frequentes após o implante de um marcapasso definitivo são: pneumotórax e hemotórax, que são, respectivamente, acúmulo de ar e sangue no espaço pleural (membrana que envolve os pulmões); hematomas; arritmias cardíacas; infecções; deslocamento do cabo-eletrodo e perda da sensibilidade ou comando do gerador (esta últimas complicações afetam o funcionamento deste dispositivo). Complicações graves e morte relacionadas ao implante do marcapasso definitivo são raras.
Acompanhamento após o implante do marcapasso artificial definitivo
A periodicidade das avaliações deve ser a seguinte: no momento da alta hospitalar, 30 dias pós-implante, a cada 3 ou 6 meses, dependendo do tipo de estimulação e condição clínica, ou quando necessário, por intercorrências.
Autor: Dr. Tufi Dippe Jr – Cardiologista de Curitiba – CRM/PR 13700.
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