A palpitação é a percepção anormal dos batimentos cardíacos. Em algumas situações, como após exercícios físicos ou excitação sexual, é normal que haja uma percepção dos batimentos cardíacos.
As palpitações ainda podem ser fruto de alguma arritmia cardíaca ou apenas traduzir uma percepção aumentada do batimento cardíaco, como ocorre em quadros de ansiedade. Desta forma, a palpitação poderá traduzir uma doença cardíaca ou uma situação não cardíaca, mas que influencia na percepção do batimento cardíaco.
Causas
A realização de algumas perguntas são fundamentais para estimarmos o tipo de alteração do ritmo cardíaco, sua causa e gravidade.
– A sensação é de batimentos fortes ou rápidos?
Batimentos cardíacos fortes, mas não acelerados, indicam mais um quadro de ansiedade. Batimentos rápidos indicam a taquicardia sinusal, taquicardia paroxística supraventricular e taquicardia ventricular.
– O início é súbito ou gradual? o ritmo é regular ou não ?
As extrassístoles são sentidas de forma irregular, como se um batimento fora do ritmo normal fosse seguido de uma falha ou pausa; a fibrilação atrial é percebida como uma aceleração, mas com um ritmo totalmente irregular; a taquicardia sinusal e a taquicardia supraventricular produzem ritmos acelerados, mas regulares, sendo esse aceleramento muito maior na taquicardia supraventricular (muitos pacientes descrevem que o “coração parece que vai sair pela boca”).
– Ocorre dor torácica associada?
A presença de dor torácica associada pode sugerir a presença de doença arterial coronariana (presença de placas de gordura ou ateromas nas artérias do coração) e suas manifestações clínicas, como a angina do peito ou infarto do miocárdio, como causas da arritmia cardíaca. As cardiomiopatias, estenose aórtica, entre outras doenças, também pode cursar com palpitações e dor torácica.
– Acompanha alteração visual, lipotímia, tontura, desmaios ou outros sintomas?
Esses sintomas podem sugerir uma arritmia cardíaca mais grave, a qual produz uma queda da pressão arterial, diminuição do fluxo de sangue para o cérebro e sintomas neurológicos associados.
– Durante a crise, qual a frequência cardíaca?
A taquicardia sinusal (até cerca de 140 batimentos por minuto), taquicardia paroxística supraventricular (mais de 180-200 batimentos por minuto) e taquicardia ventricular (mais de 150 batimentos por minuto) aceleram o coração. Batimentos lentos sugerem bradicardia sinusal intensa, doença do nó sinusal ou bloqueios atrioventriculares de segundo grau ou bloqueio atrioventricular total.
– Qual a frequência de ocorrência da palpitação (diária , semanal ou eventual) ?
Esse dado é importante para a escolha do exame complementar visando investigar os sintomas de palpitações (o registro eletrocardiográfico contínuo, chamado de Holter, pode ter duração de um dia ou sete dias).
– Especificar fatores precipitantes.
As crises podem ser relacionadas a situação de estresse emocional (taquicardia sinusal), esforço físico (taquicardia sinusal e taquicardias induzidas pelo esforço), adoção da posição de pé (taquicardia postural ortostática), após ingestão de álcool, etc.
– Uso pregresso de medicamentos ou de drogas ilícitas?
Vários medicamentos (anfetaminas, sibutramina, modafinil, antidepressivos, descongestionantes nasais, broncodilatadores, etc.) e drogas ilícitas (cocaína, crack, entre outras) podem causar aceleramento do coração ou precipitar o aparecimento de certas arritmias cardíacas.
– Passado de doença da tireoide?
O hipertireoidismo pode acelerar o coração ou desencadear o aparecimento de arritmias cardíacas, como a fibrilação atrial.
-Passado de doença cardíaca? história de morte súbita familiar?
A presença de doença cardíaca estrutural aumenta a chance de gravidade de uma arritmia cardíaca documentada. O histórico de morte súbita na família pode indicar doenças genéticas que cursam com arritmias cardíacas graves, com a cardiomiopatia hipertrófica, síndrome de Brugada e displasia arritmogênica do ventrículo direito.
– As palpitações possuem associação com o uso exagerado de cigarro, café ou álcool ?
Essas substâncias pode acelerar o coração ou precipitar o aparecimento de certas arritmias cardíacas. A ocorrência de fibrilação atrial após um exagero na ingestão de álcool no final de semana é chamada de “holyday heart syndrome”.
Investigação da palpitação
A base para o diagnóstico correto da palpitação e sua causa é o exame clínico (principalmente a história clínica). Vários exames complementares podem ser solicitados para a investigação, como exames de sangue (exemplo: dosagem de potássio, hemograma , função da tireoide e enzimas cardíacas), eletrocardiograma, Holter (palpitações diárias), monitor de eventos (palpitações semanais ou eventuais), ecocardiograma (avalia a presença de doença cardíaca estrutural), teste de esforço (palpitações aos esforços ou para o diagnóstico de doença arterial coronariana), estudo eletrofisiológico (é capaz de reproduzir certas arritmias cardíacas, identificar o seu foco de origem e tratá-las, através de uma ablação por radiofrequência), ressonância cardíaca (útil para o diagnóstico de uma doença chamada de displasia arritmogênica do ventrículo direito), etc.
Autor: Dr. Tufi Dippe Jr – Cardiologista de Curitiba – CRM/PR 13700.
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