O exame cardiológico é composto por duas etapas: anamnese e exame físico. A maior parte das informações que conduzem ao diagnóstico correto de uma doença cardiovascular são provenientes do exame clínico, em especial, a partir das informações obtidas através da anamnese (história clínica).
Os exames complementares como o eletrocardiograma, teste de esforço, ecocardiograma, entre outros, como o próprio nome sugere, são complementares no contexto de uma avaliação cardiológica.
O eletrocardiograma, que é o registro da atividade elétrica do coração em estado de repouso, é obrigatoriamente realizado em uma avaliação cardiológica inicial.
Anamnese
É a história clínica relatada pelo paciente ou por informantes durante uma consulta médica. Apresenta as seguintes etapas:
-Identificação: perguntamos ao paciente o seu nome, idade, sexo, profissão, naturalidade e procedência.
-Queixa principal: perguntamos qual é o motivo principal da consulta, ou seja, a sua queixa principal (exemplo: dor do peito).
-História da doença atual: perguntamos sobre o início dos sintomas e quais são as suas características (exemplo: localização da dor no peito, caráter, duração, fatores de agravo ou de alívio, fatores precipitantes e sintomas associados).
-Histórico de doenças pregressas: perguntamos sobre as doenças crônicas ou prévias como a hipertensão arterial, diabete melito, dislipidemias (anormalidades do colesterol), entre outras. Exames prévios (exemplos: eletrocardiograma, ecocardiograma, entre outros), tratamentos (exemplos: angioplastia coronariana) e cirurgias também são pesquisados neste quesito da anamnese.
-Histórico familiar: perguntamos sobre as doenças de caráter genético como a hipertensão arterial, diabete melito, dislipidemias (anormalidades do colesterol e suas frações), e as neoplasias (tumores). A doença arterial coronariana precoce (angina do peito, infarto do miocárdio ou morte súbita em um parente de primeiro grau do sexo masculino com menos de 55 anos ou do sexo feminino com menos de 65 anos de idade) sempre deverá ser investigada.
-Condutas e hábitos de vida: perguntamos sobre o padrão alimentar, tabagismo (ativo ou passivo, quanto cigarros fuma por dia, há quanto tempo fuma,etc.), etilismo (tipo de bebida, frequência e quantidade da ingestão), uso medicamentos (atuais e pregressos, quais são os medicamentos, dose,etc.), uso de drogas ilícitas, prática de exercícios físicos (tipo de exercício, duração de dada sessão e há quanto tempo pratica, frequência semanal,etc.), atividades físicas do cotidiano e no trabalho, e histórico de alergias (secundárias a medicamentos, alimentos e substâncias, com por exemplo, contraste iodado).
-Interrogatório sobre outras queixas: sono, roncos, apneia (pausas respiratória durante o sono), cefaléia (dor de cabeça), tonturas, dispneia (falta de ar), sibilos (chio de peito) tosse e expectoração (catarro), azia , dor abdominal , funcionamento intestrinal e urinário, edema (inchaço), apetite e peso, ânimo, humor, etc.
Exame físico
O exame físico costuma iniciar com a avaliação do peso, altura (estes permitem calcular o índice de massa corporal, que é o peso dividido pela altura ao quadrado) e a medida da circunferência abdominal (estima se há um acúmulo central de gorduras).
Em seguida realizamos a medida da pressão arterial. O exame da cabeça e do pescoço inclui a verificação das mucosas (pesquisamos indícios de uma anemia ou icterícia, que é a coloração amarelada da esclera dos olhos), palpação da glândula tireoide e ausculta das artérias carótidas, localizadas no pescoço (um sopro nesta artéria pode sugerir placas de ateroma nessa artéria).
O exame do tórax inicia-se com a inspeção, a qual poderá revelar a presença de deformidades na parede do tórax. A palpação do tórax poderá mostrar um ictus cardíaco (ponta do coração) desviado , sugerindo aumento desse orgão. Durante a palpação ainda poderemos reproduzir uma dor torácica referida pelo paciente (tal achado fala contra uma origem cardíaca da dor), e ainda, perceber os frêmitos (vibrações na parede do tórax causadas por um sopro cardíaco intenso).
Prosseguimos com a ausculta cardíaca e dos pulmões (veja adiante). Em seguida, examinamos o abdome (com palpação e ausculta). O exame dessa parte do corpo poderá revelar um aumento do fígado e a presença de ascite (achados de insuficiência cardíaca direita, ou seja, enfraquecimento do lado direito do coração), um sopro na artéria aorta ou nas artérias renais (sugerindo a presença de placas de ateroma nessas artérias) ou ainda, uma massa palpável e pulsátil, fruto de um aneurisma da artéria aorta.
Finalizamos o exame observando as extremidades. Verificamos a presença de inchaço (edema) nas pernas, sinais de insuficiência venosa (varizes, escurecimento da pele e úlceras varicosas) ou arterial (diminuição da amplitude dos pulsos arteriais, pele seca e queda de pelos).
Medida da pressão arterial
Devemos realizar as medidas da pressão arterial em um ambiente tranquilo, com temperatura agradável, sem que o paciente esteja de bexiga cheia e sem ter feito exercícios físicos há 60 minutos. Ele também não deverá ter ingerido álcool, café, alimentos ou ter fumado até 30 minutos antes das medidas. Não devemos falar na hora das medidas.
Devemos utilizar um aparelho para a medida da pressão arterial adequado. As melhores opções são os aparelhos eletrônicos valiados (testados por entidades especializadas), aparelhos aneroides calibrados ou aqueles de coluna de mercúrio. O manguito (bolsa de borracha) deverá ser colocado no braço, livre de roupas e sem garroteamento (compressão) por roupas apertadas. Se o braço do paciente for muito grosso (circunferência medida com fita métrica igual ou maior que 35 cm) ou muito fino (circunferência igual ou menor que 26 cm), será necessário a utilização de um manguito de tamanho especial, fora do padrão habitual.
Na primeira consulta o ideal é realizarmos algumas medidas em ambos os braços. Em pacientes idosos, diabéticos ou com suspeita de queda da pressão arterial ao adotar a posição de pé (hipotensão ortostática), a pressão arterial deverá ser medida cerca de um minuto após a adoção da posição de pé.
Ausculta cardíaca e pulmonar
A ausculta cardíaca deve ser feita em vários locais do tórax (focos de ausculta). Durante uma ausculta observamos o ritmo cardíaco, as bulhas cardíacas (sons ocasionados pela abertura e fechamento das válvulas cardíacas), e a presença de sopros (sons ocasionados pelo turbilhonamento do sangue ao passar pelas válvulas ou por outras estruturas cardíacas).
A ausculta pulmonar avalia o murmúrio vesicular (ruído normal dos pulmões) e a presença de sons anormais como os estertores (indicativos da presença de secreção ou líquido nos pulmões), os roncos (indicativos de broncoespamo das grandes vias aéreas) e os sibilos (indicativos de broncoespasmo das pequenas vias aéreas).
Autor: Dr. Tufi Dippe Jr – Cardiologista de Curitiba – CRM/PR 13700.
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