As gorduras, também denominadas de ácidos graxos ou lipídeos, são substâncias que funcionam como fonte de energia para os processos metabólicos do organismo .
As dislipidemias são anormalidades na concentração das gorduras circulantes no sangue , fato que predispõem os indivíduos ao aparecimento da aterosclerose (depósitos de placas de gordura na parede das artérias ).
Um estudo conduzido em nove capitais brasileiras, envolvendo 8.045 indivíduos com idade média de 35 anos, no ano de 1998, mostrou que 42% dos homens e 48% das mulheres possuiam colesterol elevado (acima de 200mg/dl). A aterosclerose e suas consequências, como o infarto do miocárdio e o derrame cerebral, são as principais causas de morte no Brasil.
As gorduras são obtidas dos alimentos (30%) ou são formadas em nosso corpo (70%) , principalmente no fígado , podendo ser armazenadas nas células gordurosas ( adiposas ) para um uso futuro.As células adiposas isolam o corpo contra o frio e ajudam a protegê-lo contra traumas. As gorduras , são componentes essenciais das membranas das células, das bainhas de mielina que envolvem as células nervosas e da bile.
O colesterol:
As duas principais gorduras presentes no sangue são o colesterol e os triglicerídeos. As gorduras ligam-se a determinadas proteínas para deslocar-se no sangue. As gorduras e as proteínas combinadas são denominadas de lipoproteínas.
As principais lipoproteínas são os quilomícrons, as lipoproteínas de densidade muito baixa ( very low density lipoprotein ou VLDL-colesterol ), as lipoproteínas de baixa densidade ( low density lipoprotein ou LDL-colesterol , chamado de “colesterol ruim”) e as lipoproteínas de alta densidade ( high density lipoprotein ou HDL-colesterol , chamado de “colesterol bom”).
Cada tipo de lipoproteína serve para um propósito diferente e é metabolizada e eliminada de uma forma distinta. O colesterol total e as suas frações podem ser agrupados através da fórmula de Friedewald (válida apenas para valores de triglicerídeos abaixo de 400mg/dl):
– Colesterol total = LDL-C + (Triglicerídeos dividido por 5 + HDL-C).
– Valores de referência :
Normalizar o nível do LDL-C é o objetivo primário do tratamento das dislipidemias . O valor ideal do LDL-C , varia de acordo com o perfil do risco cardiovascular do paciente ( para avaliar o seu perfil de risco e os valores ideais das gorduras do sangue , leia a página sobre cálculo do risco cardiovascular ) .
Os pacientes podem ser classificados como sendo de baixo risco , risco intermediário , alto risco e muito alto risco . Abaixo estão relacionados os valores ideais do colesterol , de acordo com o perfil de risco cardiovascular do paciente:
Baixo risco : CT menos que 200mg/dl , HDL-C mais que 40mg/dl em homens ou 50mg/dl em mulheres , LDL-C menos que 160mg/dl e triglicerídeos menos que 150mg/dl .
Risco intermediário : CT menos que 200mg/dl , HDL-C mais que 40mg/dl em homens ou 50mg/dl em mulheres , LDL-C menos que 130mg/dl e triglicerídeos menos que 150mg/dl.
Alto risco: CT menos que 200mg/dl ,HDL-C mais que 40mg/dl em homens ou 50mg/dl em mulheres ou diabéticos , LDL-C menos 100mg/dl (ou menos que 70mg/dl , opcionalmente) e triglicerídeos menos que 150mg/dl.
Muito alto risco : CT menos que 200mg/dl , HDL-C mais que 40mg/dl em homens ou 50mg/dl em mulheres ou diabéticos , LDL-C menos que 70mg% e triglicerideos menos que 150mg%.
Causas:
As dislipidemias podem ser primárias (sem uma causa aparente) ou secundárias (com uma causa aparente ).
– Dislipidemias primárias:
São aquelas que têm origem genética , no entanto , fatores relacionados aos hábitos de vida como o sedentarismo e a dieta , podem funcionar como fatores desencadeantes para o seu aparecimento. Existem casos de dislipidemia genética grave , com níveis muito elevados de colesterol total e morte cardiovascular em idade precoce.
– Dislipidemias secundárias:
Podem ser originadas a partir de outras doenças ( diabete melito, obesidade, hipotireoidismo, insuficiência renal , síndrome nefrótica , doenças das vias biliares , síndrome de Cushing , anorexia nervosa e bulimia) , associadas ao uso de medicamentos (diuréticos em altas doses , betabloqueadores , medicamentos para tratamento da acne, terapia de reposição homonal , anticoncepcional oral , corticoesteróides e ciclosporina) ou por hábitos de vida inadequados (alcoolismo e tabagismo).
As dislipidemias com triglicerídeos alto e /ou HDL-C baixo , costumam fazer parte do quadro clínico da síndrome metabólica.
Diagnóstico:
As dislipidemias são basicamente um entidade laboratorial, por isso , a dosagem do colesterol total e suas frações é o elemento básico para o seu diagnóstico. Raramente , as dislipidemias podem causar alterações na pele , como os xantelasmas e os xantomas . Um fato muito comum , é a descoberta de uma dislipidemia apenas quando as manifestações clínicas da aterosclerose já se fazem presentes.
– Cuidados para a coleta de sangue (segundo a V diretriz brasileira de dislipidemia e aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia) :
Evitar a coleta de sangue nos primeiros 2 meses após uma doença aguda clínica ( ex : pneumonia ) ou cirúrgica ( ex : apendicite aguda ) ; manter uma dieta e peso habituais por duas semanas antes do exame ; evitar a ingesta de bebida alcóolica 72 horas antes da coleta ; evitar exercícios físicos intensos nas 24 horas antes da coleta ; jejum de 12 à 14 horas (a coleta com períodos de jejum menores ou maiores podem alterar os resultados ) ; coletar o sangue na posição sentada após 10 a 15 minutos ( evitar permanecer deitado e sentar na hora da coleta de sangue) ; manter o torniquete no braço ( elástico que aperta o braço para tornar as veias mais salientes) por um tempo inferior a 1 minuto ; coletar sangue preferencialmente no mesmo laboratório.
Váriações de valores , inerentes ao método de análise , são normais (10% para o colesterol total , LDL-C e HDL-C , podendo chegar até a 25% para o valor dos triglicerídeos), Durante a gestação , a partir do segundo semestre , mas principalmente após o terceiro semestre , poderá ocorrer uma elevação do colesterol total , LDL-C e triglicerídeos (estes valores costumam voltar ao padrão normal cerca de 10 semanas após o parto).
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