Durante muito tempo acreditava-se que o excesso de colesterol proveniente dos alimentos (colesterol alimentar) aumentaria o risco de doenças cardiovasculares.
Pesquisadores norte-americanos realizaram um meta-análise, ou seja, análise conjunta dos resultados de vários estudos, com o objetivo de avaliar o real papel do colesterol alimentar em relação ao risco de doenças cardiovasculares.
Os autores dessa meta-análise avaliaram resultados de quarenta estudos, que incluíram mais de 350.000 indivíduos. Os estudos avaliados haviam sido publicados entre 1979 e 2013.
Os resultados demonstraram que o colesterol alimentar não foi estatisticamente associado a aumento do risco de doença arterial coronariana (formação de placas de gordura nas artérias do coração, que são principal causa de infarto do miocárdio) ou acidente vascular cerebral (derrame cerebral). No entanto, o colesterol alimentar aumentou os níveis de colesterol total, LDL-colesterol (“colesterol ruim”) e HDL-colesterol (“colesterol bom”). O colesterol alimentar não alterou significativamente os níveis de triglicerídeos.
Os autores da meta-análise concluíram que os estudos avaliados foram heterogêneos (vários aspectos eram diferentes entre os diversos estudos da meta-análise), além disso, não tiveram o rigor metodológico para obtermos conclusões definitivas sobre os efeitos do colesterol alimentar sobre o risco de doença cardiovascular.
Fonte: The American Journal of Clinical Nutrition.
Comentário do autor:
Grande parte do colesterol que circula no sangue é de origem endógena, ou seja, fruto daquilo que produzidos no fígado e deixamos de eliminar. Além disso, as pessoas podem ser responsivas ou não ao colesterol alimentar (nem todas as pessoas que comem alimentos ricos em colesterol acabam observando uma elevação dos seus níveis de colesterol sanguíneo).
Baseada nessa meta-análise, a Sociedade Brasileira de Cardiologia, em sua última diretriz de prevenção da aterosclerose, não estabeleceu um limite diário para a ingestão de colesterol provenientes dos alimentos de origem animal, como carnes, ovos e derivados do leite. Atualmente não podemos afirmar que o colesterol alimentar é capaz de aumentar o risco de doenças cardiovasculares.
É importante que as pessoas não confundam esses achados com os benefícios inegáveis da redução do LDL-colesterol (“colesterol ruim”), em pessoas elegíveis para o tratamento, por meio do uso das drogas redutoras de colesterol (estatinas, ezetimiba e inibidores da PCSK9).
“O Portal do Coração adverte: não inicie, substitua ou suspenda um medicamento sem orientação médica”.
Autor: Dr. Tufi Dippe Jr – Cardiologista de Curitiba – CRM/PR 13700.
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