Ao contrário daquilo que se pensava, novas pesquisas indicam que não é a depressão que aumenta a pressão arterial, mas sim as drogas usadas para tratá-la, sugerindo que os pacientes que tomam antidepressivos podem precisar de monitorização mais atenciosa da pressão arterial.
Os pesquisadores da University Medical Center (Amsterdã, Holanda) mostram que a depressão está associada a pressão arterial baixa – e não alta – mas tomar certos antidepressivos, particularmente antidepressivos tricíclicos (conhecidos comercialmente como tryptanol e anafranil, por exemplo) tende a elevar a pressão arterial e aumentar o risco de hipertensão arterial.
O estudo parece contradizer a teoria de que pessoas com depressão são mais vulneráveis à problemas cardiovasculares pois sua depressão aumenta o risco de hipertensão arterial.“Nós mostramos que a depressão por si só não esteve associada à pressão arterial alta e hipertensão arterial, então a hipótese não se sustenta”, disse a autora principal do estudo, a Dra. Camilla Licht.
Enquanto o estudo observou uma associação entre pressão arterial baixa e depressão, ele encontrou uma ligação entre pressão arterial alta e ansiedade.
Os pacientes do estudo faziam parte do Netherlands Study of Depression and Anxiety, uma análise em andamento de 2981 adultos com idade entre 18 e 65 anos. Desta amostra, 2618 pacientes foram incluídos no estudo atual.
Os participantes foram divididos em 3 grupos: um grupo controle sem história de ansiedade ou transtorno depressivo (590); pacientes com transtorno depressivo maior ou com transtorno de ansiedade que não tomavam medicação antidepressiva (1348); e pacientes com transtorno depressivo ou transtorno de ansiedade que tomavam medicações antidepressivas. Os pesquisadores também diferenciaram pacientes com transtorno depressivo ou transtorno de ansiedade em remissão daqueles com um diagnóstico atual.
Para avaliar a pressão arterial, os pesquisadores fizeram a média da pressão arterial sistólica (PAS) e pressão arterial diastólica (PAD) aferidas duas vezes ao dia durante repouso e ajustaram essas leituras para o uso de medicações para hipertensão.
Eles então criaram indicadores de hipertensão de 5 categorias:
-Nenhuma hipertensão (63,7% da amostra do estudo).
-Hipertensão sistólica isolada (15,8%).
-Hipertensão diastólica isolada (2,7%).
-Hipertensão em estágio 1 (definida como PAS maior ou igual a 140 e PAD maior ou igual a 90) (13,1%).
-Hipertensão em estágio 2 (definida como PAS maior ou igual a 160 e PAD maior ou igual a 100) (4,7%).
Não houve diferença no uso de anti-hipertensivos entre os 3 grupos.
A pressão arterial baixa provoca depressão:
Por outro lado, pacientes com ansiedade tinham uma PAD média significativamente maior do que os controles, embora isto não tenha aumentado significativamente o risco de hipertensão diastólica isolada. Esses resultados se mantiveram depois da exclusão de pacientes que tomavam medicação anti-hipertensiva.
Os autores do estudo especulam sobre as várias razões possíveis para que pacientes deprimidos tenham pressão arterial baixa. Primeiro, esses pacientes podem ser mais propensos a usar medicações que tratem a hipertensão, embora esse estudo não tenha observado a presença de mais usuários dessas drogas nos grupos com diagnósticos psiquiátricos. Além disso, os resultados foram semelhantes quando os usuários de anti-hipertensivos foram excluídos da análise.
Outra explicação poderia ser que tanto a depressão quanto a pressão arterial baixa tem uma causa comum. Um funcionamento ruim do metabolismo, por exemplo, que aumenta ou diminui as concentrações de certos metabólitos, hormônios ou neurotransmissores, pode afetar tanto a depressão quanto a pressão artérial, disse a Dra. Licht.
Talvez a explicação mais provável seja que a pressão arterial baixa possa, na verdade, provocar depressão. Pessoas com pressão arterial baixa freqüentemente estão cansadas, com frio e tontas e têm problemas com a concentração – sintomas que causam depressão, ela afirma.
Pressão arterial elevada ligada à ansiedade:
Quanto aos achados de que a ansiedade está relacionada a pressão arterial alta, isto pode ser devido ao estresse contínuo sofrido por pessoas com ansiedade. Nesse estado, o sistema nervoso autonômico se torna disfuncional, explicou a Dra. Licht.
“A resposta simpática (liberando adrenalina) ‘luta, fuga e medo’ aumenta, e isto aumenta a freqüência cardíaca, enquanto a resposta parassimpática ‘descansar’ diminui, a variação da freqüência cardíaca”, ela disse, acrescentando que as duas respostas podem influenciar a pressão arterial.
Não está claro o porquê da ansiedade estar associada somente a PAD (e não a PAS), mas pode estar relacionado ao equilíbrio entre a hiperatividade simpática e hipoatividade parassimpática em pessoas ansiosas, disse a Dra. Licht. “Os médicos claramente deveriam considerar se os efeitos benéficos dos antidepressivos na depressão sobrepujam o efeito do aumento da pressão arterial – e o possível risco aumentado de hipertensão”.
Fonte: Hypertension.
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